terça-feira, 20 de março de 2007

A Mundanidade (IV)


Sob a fraqueza da adversidade

Porque você me odeia tanto, se tampouco vim a me perceber,

Neste universo infinito de desconsolo?

Que papel me coloca a representar neste cenário de dementes,

Se nem mesmo me considero atriz?

Sobre que insígnia bradastes meu nome,

Se nunca quis ser marionete?

A partir de que lembrança destruístes meu ódio,

Para enfim deixar pairar apenas essa agonia infinita?

Do sopro de um Deus enfurecido enraizastes a minha despretensa melancolia,

Vagando no firmamento de guerreiros esquecidos a minguar,

Nestes dias em que oceanos sobre tempestades se movem,

No estado ardente da consternação.

Porque preciso eu da consideração monumental do passado,

Se vago sem determinação no presente das circunstâncias?

Sobre que estatutos, construíram os fatos heróicos,

Se tudo que remete ao caos trás o símbolo da transformação?

Da prosternação da musa aos símbolos fálicos, em queda fui ungida,

Resvalou-se a memória ardente de uma lady Godiva.

Da desconsideração de pseudos anatomistas às travessuras sabaticas,

Sob a fraqueza da adversidade, resoluta e mantida,

Faz-se uma lilith arguta, assumida.

W.O.

A mundanidade ( III)


A montanha liberta

Ela vive no topo de uma montanha, cheia de perigos e abismos,

Um presente e uma perdição, uma senda e um destino

Onde todas as colinas colidem no catastrófico serpentear de cores.

Viajando no infinito azul montanhoso de formas,

Sobre finas camadas de algodão acinzentado,

Um leve susto acorrentado, dos dias esquecidos e repartidos,

De encontros e dúvidas.

Comportamento humano posto nos pés de um atônito Deus

Que esqueceu do seu destino atroz.

Psicanálise de mortos para a musa predestinada,

Colidem no acidente coincidente da prosternada

Esses extintores ensombrassem o silêncio da pálida mágica

E empurram a beleza que ali deveria ser.

Emocionalmente embalada pelos sinos do alto da torre.

E vejam quão alto era ali e imaginem

Toda a ioga da liberdade da montanha

No sopro adormecido da sonhadora.

W. O.

A Mundanidade


Adágio Poco Mosso

Do alto da minha janela, a intensa melodia de adágio poco mosso, me remete a alegria das tenras tardes em que outrora sonhava com a mágica que a vida trazia, quase como um presente, suave e febril. Há... essa atmosfera de sonhos na qual realizava quase uma vida paralelamente a realidade, fazia minha alma realizar-se apenas em sonhos. É um risco sonhar tão alto, pois a queda de retorno à realidade soa quase como uma prisão. Pois é, sou quase como um pássaro ferido, no qual encontra a prisão no universo racional. O meu algoz? Há, já o conheço de longa data, está em min, sou eu, quer dizer acho que deve ser algum dos milhares de eus que em min reside. Há que melancolia, sentimento vago e indefinido, que nem se faz alegre nem triste, é só como é mesmo, “uma coisa defronte da outra”, no entanto, “nem uma coisa nem outra”. Há ha há... Quem me dera nascer de novo, e assim me fazer outra vez, de como eu era menina, e de como eu não sofria, ao sofrer demais e mesmo assim não entender deveras o que sentia. Que prazer, que dor, que viver sem cor.
Meu pesar que não cessa jamais é interrompido pela coruja amiga, que busca repouso antes do vôo da noite na penetração pela escuridão voraz e parece me olhar, mas é só uma impressão do que se faz centro do universo, só um eco e uma vontade. Essa esperança do sonho é quase meu destino fatal e minha descrença subjugada e tolhida. Desesperançosamente bela. Há minhas lamúrias, desbravam toda a tensão do meu mundo atômico. É uma dor, é uma sorrir sem sentir, é quase como um grito surdo de uma latrina qualquer, do correr incessante, por uma rua tediosa e esquecida. Dos dias que corri, dos dias que cantei desdenhosamente quando fui conquistadora de um novo mundo que em min se formava e de onde tirei todas as riquezas e tesouros... Mas que exploração inútil, pois agora nada encontro e me deito em solo infértil, sinto essa rigidez, seca e pavorosa, que me estendo e durmo de calor.
Poxa que calor, que saudade das tardes tenras, poxa quanta dor, quanto amor que guardo em min, de desejo de um mundo esquecido, deixado para trás e de minha história que nem sei contar mais. Quantas horas, quantos atrasos, quantos minutos perdidos numa janela de sonhos e de uma vida que quase não vivi. E onde estava então? Não sei, não vi, acho que também não senti! Hei converse comigo, me diga a que horas tudo isso se passou, e por que eu perdi. Fatalidade ou destino, de tão piegas que soa quase esqueci da premonição fatal, da rainha do desassossego, a angústia plena e introvertida que me tirou o sono e me deixou sem consolo, que me tirou a vida e me deixou sem sonhos, no adágio poco mosso, das ilusões do que nunca vivi.
E assim soa mais um dia qualquer na minha vida inútil que passa devagar. Sento e espero alguma mudança, mas nada acontece, é sempre esta mesma angústia, de estar assim pensativa, esperando um grande acontecimento. Vi na TV uma hora dessas o segredo da longevidade da vida—A esperança. Mas que tolice, tenho vivido todos esses anos assim, iludidos por este sentimento nefasto que chamam esperança, mas que dele quase me livrei, pois de nada basta juntar pedaços de memórias tristes como indício de um novo despertar. Essa bizarrice chamada esperança só nos serve de consolo de uma vida fastiosa e mesquinha que nos exige sempre mais e sempre de novo, e sempre a mesma coisa. Há que tédio fulminante, que ódio hostil dessa vida tão ingrata e indolor, tão desmerecedora de prazer.
Eu sei o exatamente o que pensar de algo assim que escrevo: pesado, tedioso, enfadonho, comum, ou seja, o puro romantismo agonizante de outrora, que sempre nos perpassa no mais das vezes, como uma lança a cortar na carne e nos envolver numa dor indizível. Mas é apenas o que há e então o que posso fazer porra? Não tenho lugar no mundo, neste mundo que é para pessoas que se dobram em utilidades, na utilidade de servir aos outros, de exercerem seus papeis representativos. Poxa todo esse mise en scène, essas máscaras, esse jogo de se recobrir em gostos e disposições como genuíno esforço de se fazer presente frente ao mundo, quando na verdade só possuímos o jogo livre da fantasia, do mundo dos sonhos, nossa imaginação, um mundo próprio livre das convenções, cheia de desejos e meias verdades, que a ninguém tem o que dizer somente uma fuga, um abrigo solitário e ingênuo, pois tem medo desse mundo instituído em regras e conceitos.
Preciso me alimentar não mais de frutos perniciosos que contaminam cada parte minha, mas sim preciso alimentar algo em min que se encontra rompido por gerações de detratores, algo como um afrodisíaco ou um estimulante, renovador, cheio de força e, sobretudo, mágico. Sei que erro quando peço em voz alta, sei que é uma fraqueza minha, mas nesse mundo agonizante é tudo que me resta, é ver do alto da montanha que está o ovo da serpente e através da tempestade não mais sonhar, mas sim contemplar a força, encontrando o anelo que me envolverá enfim de volta ao lar.

...

A Mundanidade



Ávila sempre foi dada a excessos e que quase sempre eram regados a brigas e discussões que até hoje não a acrescentaram em absolutamente nada. Hostil a quase tudo que é humano, vivenciou cada gota do seu ódio paulatinamente até se fartar. Celebrava constantemente os outros caírem em desgraça, chegava quase ao êxtase do prazer e satisfação que causava ver os sonhos, decepções e amarguras dos que estavam a sua volta. Não que fizesse isso por instinto, mas sim por frustração advinda da sede de vida que se dissipara e que como conforto de uma alma morta estava a se configurar na necessidade destrutiva de se lamentar pelo sucesso alheio. Talvez o que mais a desagradasse era o fato de por mais mal desejasse aos outros, parecia que a força de seu pensamento acabava resultando em bons agouros para os outros, a tal ponto que a sua amargura com o passar do tempo só piorava o que sentia. Todas as suas idiossincrasias partiam de um apelo inconsciente de vontade de vida, de sentir em seu âmago o profundo do humano, o transbordante ponto entre êxtase e salvação, o vagar solto na beira do abismo entre atmosferas desconhecidas e chegar ao ponto máximo de ebulição sem nada a desejar, mas, no entanto, apenas o gritante fato do que era a vida até então lhe ocorria, sobre a problematicidade e o espanto dos porquês da vida, esse regressar infinitamente para nenhuma resposta possível, a de que para cada porque há sempre mais um porquê e assim infinitamente.

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quarta-feira, 14 de março de 2007

O sopro



Um sopro de vida contaminava o ar. Vindo do lado norte, da antiga construção com suas torres de estranhos contornos em espiral, catalisadores por excelência de energia cósmica, fonte da imponência e arrogância de antigos deuses-sacerdotes que outrora dominara aquele lugar que agora só tinha como seu dono a vegetação local. Desenhos indefinidos e árvores secas inclinavam-se sobre a entrada da torre mais alta, por sobre a sacada, como também uma espessa fuligem que se confundia com uma areia negra e sebenta de cheiro forte tornando o ambiente desdenhosamente hostil.
Confundida entre as sombras ela se ocultava. A espreita de algum movimento, ela deslizava. Condenada, perscrutava o sopro com perfume de lírios brancos que a fazia retornar ao mesmo lugar repetidas vezes resignadamente na esperança de encontrar o jazigo de sua alma. Perdida em meio ao som das musas enviadas de poisedom misturado ao quebrar das ondas nos imponentes rochedos, o delicioso turbilhão de vozes melodiosas enrijecia aquele corpo cansado, emudecido ante a vigia imposta pela mente. Mas até mesmo um corpo cansado tem linguagem própria e envia a uma mente ávida o pedido de repouso, pois, quanto tempo ainda suportaria aquele auto sacrifício imposto? E assim, caindo em um sono profundo, secretamente sua mente fugia por alguma passagem obtusa e ominosa que se desvendava ardilosamente no sono, e que tal qual um segredo não se deixava revelar nem a si próprio no momento do retorno à prisão imposta pelo corpo, fazendo sua mente se tornar o ardil necessário para todas as ilusões sutilmente projetadas. Pois o deleite do mundo onírico é veneno fatal na busca além-ser que permeia as mentes.
Viajando por entre abismos a embarcação dos mundos inferiores seguia na sua busca ao inominável, lentamente navegando ao seu presumido destino, sob cavernas lodosas e rios de larvas onde o vapor quente criava uma cortina de fumaça encobrindo vertiginosamente a pequena embarcação. Sob todos os lugares presentes se erguiam olhares sorrateiros ante tal embarcação desconhecida. Havia um horror natural de todas as criaturas daquele universo rastejante que os impactavam de tal maneira sórdida de modo a manterem-na na penumbra, encurvadas, quietas e ajoelhadas sob um silêncio sepulcral. Apenas a espreitar a inaparente figura prostrada à frente da embarcação que se mantinha velada debaixo de um manto negro escondendo a delicada e fina veste branca que cobria a sua espectral figura resplandecendo todo aquele temerífico brilho destinado a adoração sacerdotal em que era envolvido o seu semblante. Reverenciada e temida, seus olhos aguados, obscurecedores de almas, transformava tudo a sua volta em sombras pálidas do que havia sido outrora.
A subida foi longa e árdua revelando a urgência de seu acontecimento, toda a destruição deixada para trás se fazia indicio de uma desvairada busca por um mundo de sonhos que havia sido deixado para trás e que mais uma vez pelo jogo terrífico dos além- deuses estava prestes a se descortinar . Mas o perfume dos lírios brancos que invadia as profundezas abismais anestesiava a todos os tripulantes da embarcação produzindo uma intensa atmosfera de fantasias misturada a uma melancolia vaga e indefinida que os atordoava e os levava de encontro ao apelo inconsciente da morte, que vaga sempre certa por entre mentes alucinadas, mesmo naqueles que já fizeram a travessia para além do mundo dos mortos—Os notívagos sem alma.
Ah, o perfume! Que êxtase, que delírio terrestre, que danação! Era esse o perfume perdido no qual despertava a tenção da musa petrificada, insana na imersão de seus vãos desejos abissais, um perfume que trazia o desbloqueio de emoções até então perdidas e a sensação de um reconhecimento vago de algum momento de paz misturada ao acalento doce de uma manhã tenra e uma aurora glorificada. Este turbilhão de emoções provocou uma tensão resignada à figura descontente.
A chegada à saída das muitas cavernas que circundavam a ilha gelou a infernal figura. Enfim estava próxima. E essa circunspeta proximidade tornava-se ainda mais nítida com a audição de tambores em uníssono, inflamados por gritos hostis de bestas ensandecidas pela influência da gigantesca lua sangrenta que despontava céu adentro. Evocando e clamando toda a malignidade em exortações ao sagrado, ao misterioso bradavam a todas as extremidades da superfície terrestre o rompimento da fina barreira fechada pelos sete selos do cataclismo cósmico.
A embarcação vinda da imensidão do distante mundo inferior chega ao seu ponto final e sob a baixa maré ela desce molhando as vestes brancas da espectral figura, mas de beleza incomparável, sobre-humana. Seu corpo molhado até a cintura caminha sobre a areia e o manto é jogado sobre o chão e assim segue. Aquele som dos tambores causou aflição aos seres inferiores escolhidos para tal missão e em sua volta o clima de insanidade tomou proporções catastróficas, um bando de criaturas cadavéricas, gemendo freneticamente e aturdidas lançam-se sobre o frio mar Egeu. Saíram de catacumbas fechadas e silenciosas para descobrirem os seus fins congelados no mar do desconhecido nada. Assim ela segue completamente só no seu intento, atordoada pelo perfume anestésico e vagar por templos esquecidos a cair num sono vago e profundo. Após um transe fulgaz e intermitente o despertar se dá quase que como um sopro de vida, revigorada pela força maestra do luar, irradiando um brilho lustroso que renova o interior dos seres. Insanamente ensaiando passos descompassados, segue o ritmo da odiosa melodia passando por um imenso círculo de pedras, ela sobe a um monte chegando até a antiga construção de torres em espiral aonde os sons de outrora vão resumindo-se ao silêncio da noite. O cheiro de lírios brancos continuava presente e se tornava cada vez mais intenso, assim brotava o pensamento da certeza de que daqui provinha o cheiro que soprava até as cavernas distantes nos mundos inferiores.
Percorrer aquele imponente corredor de mármore por de trás da antiga construção parecia não ter fim e levava a uma escadaria que dava para um outro ponto do monte, onde ao descer se encontrava um lindo jardim com árvores frondosas e flores diversas. Em seu centro haviam sido deixados montes de lírios a queimar e muitas oferendas deixadas. Havia de fato passados alguns seres naquele recinto sob algum propósito deífico. Um pouco mais na frente galhos em forma de serpente encobria uma pequena passagem que levava a uma pequena clareira que era particularmente embebecida pela lua de sangue, um monumento da natureza primeva como demonstração de sua arrogância e plenitude ao mundo primitivo.
Ao se abrir à clareira ante a figura espectral antes adormecida, ela caiu ajoelhada num pranto desesperado. Gritos lamuriantes acordaram toda a extremidade do espaço terrestre, até mesmo de universos distantes. O que havia sido selado e manido em silêncio por décadas e gerações se rompia num choro descompassado e rancoroso. Então, um rio de sangue banhou a sua veste branca. Toda a sua dor dissipada em lágrimas de sangue. Estava ele de frente para aquela enorme estátua do mais belo mármore, engenho de mentes prodigiosas, construída sob a égide de eras longínquas, alicerçadas no ser que reveste o mundo como prova de sua magnitude e exuberância. Era ela, sempre havia sido, frente a frente consigo mesma, face impiedosa, dura, enrijecida. A mesma figura espectral, intacta, intocável, espetáculo de toda a dor, dilacerada diante o temor. Então, a despeito de todo o horror, escarnecida pela visão monstruosa, a senhora dos mundos inferiores, lança-se com um bloco de pedra a atingir pavorosamente a estátua, gritando ensurdecedoramente. Rachando e depois fatalmente partindo em pedaços a estátua. O tilintar dos pedaços de mármore no chão foi o suspiro final do que de verdade nunca existiu. Apenas resquícios ou fragmento desconexos de fantasias antigas que a memória não apagou.

W. O.

tudo em vão?

Acordei com esta sensação, a de que preciso de uma nova estação ou de um mundo novo, me reinventar talvez para outras esferas de pensamento, mas enfim... nada acontece só o de sempre, este medo vago e indefinido de tantas auroras perdidas, e de todos os "se" que por min passaram.

A irrupção da Lady Lázaro

Um novo dia recomeça, e com ele todas as falsas esperanças...

Para além de toda a imensidão dos muros, um novo mundo se recria.

Um medo vago e indefinido, uma glória de fanfarrões,

Um paraíso perdido em meio à multidão.

Em favor da vida as potências irrompem através da partícula espaço-tempo,

Um pequeno farfalhar de asas ao redor de casa,

Uma lady lázaro em meio aos monstros malignos,

Uma pequena luz e um sorriso,

Entre canções vagas e gemidos.

Tremeluzindo devagar se sente o vapor da dor,

Do medo, do rancor...

Um entardecer de despedidas,

Das minhas falsas ilusões,

Um passo a angst, uma vida perdida,

Uma viagem do viandante em meio aos vilipêndios,

Da torrente turbulenta em meio aos detritos,

De uma lady lázaro a se decompor.

W.O.


terça-feira, 13 de março de 2007

A elite


Como todas as coisas ditas, sempre beiram ao vazio nesse jogo sem fim de palavras e mesmices...

A dica é talvez não se permitir pensar, não faz bem a sanidade mental e paradoxalmente penso nisto todo o tempo ocioso em que vivo. Certa vez Nietzsche falou da consideração monumental em que também estão fincados a existência amargurada das moscas e o seu centro voante. No entanto, consiguo pensar melhor a partir do prisma dos ratos, mordem de ódio e de amrgura de sua condição, odeiam viver no lixo, ser o próprio lixo, mas ao rato não parece haver possibilidade de saída, mas até ai há um grau fenomenológico, são a elite da sujeira.