domingo, 16 de novembro de 2008

a aurora da fada


A fada suicida volta a se insinuar, liberou-se dos sonhos.
Uma névoa voraz a pairar sobre a fronte do cavaleiro a minguar.
Ele busca a paz em meio à podridão,
Mas somente depara-se com a sua solidão.
Sempre retornas ao lar, pretensa melancolia,
Inclinas-te sobre o mármore, refaz a lâmina fria.

Teus anseios de outrora negros são agora veneno fétido de teus medos,
Éis o último homem da aurora, aquele dos velhos dogmas,
Preso a floresta devastada pelo medo cego da incompreensão.

Oh fada suicida, volta aos teus campos idílicos,
Séculos de tormentos não aplacaram tua dor,
Emudeceste meu coração com a rigidez de teu ódio implacável,
Danças na pedra fria da dor dos homens,
Presenteias os semblantes com rosas sombrias e apáticas os guerreiros em dor
Mas o azul que se espalha por todas as arestas há um dia de voltar,
Aos meus campos agora adormecidos e o cinza deixará de habitar o meu lar
E da minha árvore irá brotar lindas flores que habitarão o céu harmonioso de um dia de verão.
E você fada, voltará a sonhar em teus campos sobre uma aurora verdejante de um puro ser,
De um mundo sem dor.

Indissociação do olhar


Quase sempre te observo em mim, na forma indissociada do meu olhar, na perenidade dos sentimentos metamorfoseados das distâncias que nos circundam, como um dia de chuva, gotas que caem incessantemente, perfazem seu caminho através do céu, toca as extremidades, percorrem as cores do mundo, os dois céus. Um céu que escuta e um céu que devora. Será que hoje o que vejo são apenas as sombras do nosso passado? O seu olhar se dissipou nas nuvens angustiantes que em ti pairavam?
Por ora, o que sei de mim, é que a minha única companheira tem sido a solidão de outrora, e foi tudo que restou da minha infância roubada, e hoje é tudo que me lembro... Sua frieza gelou meu coração, me fez lembrar que eu forjei meu coração no aço e na dor, que eu violento todos os meus sentimentos para permanecer viva, que eu estou condenada a estar eternamente dividada, entre viver em morte e não poder morrer em vida, ou de vida. E ter a triste certeza que não existe um porto para me ancorar, um dia de sol depois da tempestade, e a paz do entardecer faz ter o pior sentimento possível a um ser. Piedade de sí mesmo.
E o reconhecimento do meu fracasso perante a vida é ainda mais desolador. Não tenho a quem culpar, nem mesmo a mim, pois o mundo é só o que é mesmo, acaso, acaso e acaso. Você era a última conexão com o meu passado, onde eu ainda podia sonhar um pouco. Ponho uma pedra em ti, findo inevitavelmente com quem achei que era. Eu dou apenas um suspiro para a minha dor, porque cair é sempre a conseqüência última de cada ato que enceno. Eu concebo cada coisa que sinto como um ato sagrado, talvez por esta razão, tudo é tão determinado em minha vida, tão dramático e maculado.
Agora sou apenas um fantasma do meu próprio passado, uma sombra que adormece nos campos de Avalon com suas crenças maravilhadas de um mundo mais feminino e que agora jaz como feminino sombrio. O mundo não tem mais lugar para Deus, ou deuses, só restam as solenidades apáticas de seres distanciados e medíocres, não tente buscar filosofias cegas e vãs em terreno infértil, pois isto só será fonte de mais sofrimento, mas dizer não é suficiente, gritar pelos arredores do mundo também não vai influenciar as suas decisões, pois, a tua busca cega continua em meio às ruínas de teu coração frio e insensato. O que há de pitonisa em mim insiste em avisar a humanidade à desdita da vida, mas o que há de sacerdote em ti prevalece nas mentiras forjadas em teu coração corrompido e cego. Emudecerei as tuas meias verdades e gritarei em silêncio, de horror ante as doenças infringidas em ser.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A travessia



A luz, a profundidade, atravessou carne e espírito,
E delas brotaram um infinito de cores despertos em mim.
Um incêndio ensombrecido marginalizado nos odores exalados,
Das inconstâncias de um profundo em cores, da flor azul.

Mas quando amanha, a manha não retornar e o escuro em mim ficar,
Será que encontrarei as sombras que habitam?
Os espaços cognoscíveis de meu consciente despertos exprimem
O circo horrífico da vil humanidade, decompostos nos teatros marginais,
De um vulto que bate a porta. Precipitado, despido e expurgado do inferno.
Se eu não posso ser eu mesma, é melhor que eu pereça na intangibilidade dos mortos

Mas quando você acordar do profundo sono do egocentrismo puro, abstrato e surreal,
O que restará do mundo construído e abnegado?
Vários sóis parecem despertar e uma nova aurora há de chegar,
Milênios de tempestades e noites cinzentas ungiram a minha mãe,
E a prometida sempre cumpre a sua profecia,
E a criança ainda sim habita a profundidade, nos mundos desditos e incompreendidos da humanidade.

Eu olho a minha volta e as fogueiras estão acesas,
Eu procuro um abrigo, mas as árvores estão mortas,
E eu não tenho asas, e somente o anoitecer cobrirá toda a angústia,
E desmentirá toda a insanidade desperta nas luzes opacas das pupilas dilatadas de outrora,
Dos conflitos exaltados sobre filosofias cegas e sem razão, dos pastores lunáticos sem paixão,
Mas das cinzas ressurge a fênix, a de muitos nomes, aquela renegada, renascida da memória ardente de uma lady Godiva, das travessuras sabáticas de pseudo-anatomistas,
Em queda fui ungida, uma lilith arguta, assumida...

W.O.