Existem anseios guardados em nossas mentes, mergulhados no mais infinito sono, que são como dias sem sol, onde a intensidade do frio não nos deixa ter repouso. Como nuvens inchadas, estes anseios deságuam no mais profundo oceano que guardamos.
Todas as nossas dores são como simulacros enraizados nas nossas diversas idiossincrasias, se mantém guardadas pela nossa polidez, do medo de fracassar ou de ter êxito. A liberação dessas dores e anseios guardados sempre nos reportam ao âmago das lembranças. Assim é a história dos homens, luta de gerações para preservar a primeira infância de nossos ancestrais, a lembrança de Gaia.
Nossos sonhos são tão perenes, tão acelerados, tão perdidos no tempo. E assim, quem pode nos salvar desta perdição das forças ocultas que se estendem sobre nós? Legiões de detratores, onde só a mãe chora pela morte de seus filhos. Pois, um filho esquece rapidamente a morte de um pai, mas um pai nunca esquece a morte de um filho. E como pode ser a vida tão hostil? Tão cruel até nas suas maiores alegrias. Na alegria de amar um filho, de amar a vida e a todas as circunstâncias vagas em que amamos o mundo como amamos a nós mesmos.
Aquela noite eu nunca esquecerei, do meu avô a me mostrar a plenitude do mundo, do silêncio que recobre o amor, a adversidade em que o amor se mostra. Naquela noite tive medo, pois não havia luzes, nem mesmo os candeeiros queriam funcionar e eu chorava intensamente no colo de minha mãe, embalada por uma velha rede. E ali todos os meus anseios despontavam sobre meu corpo.
Em todas as noites em que oprimida no seio de minha mãe, ela me perguntava o que eu temia, e eu respondia que não sabia. Mas com os anos fui montando meu pequeno quebra-cabeça. Era medo do mundo, medo de mim, de quem eu seria, de quem eu não seria, medo de sofrer, medo de ser vitoriosa, medo de não sê-lo, medo de ser!Medo de não ser! E assim, neste medo vago e indefinido, eu já era eu mesma. Essa inquietude, toda a minha verborragia, onde essas risadas insanas não me revelam, sobretudo me escondem, porque como eu disse no começo: “existem anseios guardados em nossas mentes...” e como liberar estas dores? Esses amores, fraquezas, sonhos, e tantas ilusões? É o fim do carnaval. Não brinco mais, não sonho mais. Apenas em alguns melancólicos momentos mergulho à minha infância, me estendo naquela noite, em que da rede levantei-me na imensa escuridão da velha cabana e segui o cheiro do cachimbo do meu avô. Ali se abriu para mim a estação das luzes. O brilho das estrelas e a risada leve do meu avô me disseram coisas que nem um milhão de livros alguma vez me disseram. Aquele noite percebi o acaso da vida, que nos resguardamos no silêncio, como as estrelas, pois todas as coisas precisam de tempo, a terra precisa de tempo, tal qual esta árvore frondosa do sertão a sua frente precisou de tempo para crescer e secar ao longo do tempo. A terra precisou de tempo para do mar virar sertão, para você chegar a este instante e sonhar com a vida, para sentir seus medos, seus anseios, essa angústia, e isto tudo, fruto de um único instante. Um marco, o mero acaso das circunstâncias vagas e destemidas que a vida nos recobre. E neste precioso e curto espaço de tempo, aí está você prostrada como um mármore frio e como a noite, a medir a sobriedade da vida, mas com que propósito? Com que propósito somos lançados a este infinito universo de desconsolo? Talvez propósito nenhum. Sem joguetes, metáforas, artimanhas ou vilanias de deuses, sendo apenas o mais puro acaso de circunstâncias vagas.
Williane Oliveira.
Um comentário:
hoje busquei seu blog, parece q foi a coisa mais inteligente q fiz. li uns 4 textos e sinceramente 'e como se tivesse tomado uma dose concentrada de "vida" na veia.
meio email `e: giorgiolucio@hotmail.com manda noticias, ok?
beijoss
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