Castelo de cartas
Sou frágil, não queria ser, mais sou demais
E tudo me quebra, só sei fingir que não sou.
Desprendo-me facilmente de minhas funções,
Entendo até quando não devia entender.
Sinto até o sem sentido, até a última gota,
Assim, todo o tempo perdido fica mais perdido ainda.
Nada me acalma, pelo contrário, tudo me afeta,
Os pequenos cochichos, os sons mais abafados,
As ideias mais ousadas e terríveis, as chuvas sem gosto.
Saboreio até o gosto do nada, de tudo, das ínfimas coisas-
Das autênticas e inautênticas.
Digerir hostilidades é quase um talento,
mas nunca um ditame de prazer.
E que tempestade eu carrego,
Tudo me inunda, me derruba, me destrona.
Eu não ando por aí, não posso, não devo
No meu reino estou presa e sozinha.
Mas as vozes continuam ao meu redor-
Uma coroa para as minhas profundas fraquezas,
Mas uma cabeça a ser cortada.
De que tamanho queres ser rainha?
Do tamanho de um castelo para esconder bem o calabouço.
Desce do trono rainha, sinta o ar das montanhas,
As coisas estão fora de seu lugar, sem controle...
Apenas supõe pensamentos, repreende a insatisfação,
Tenuamente passional, tenuamente pessoal,
Fora dos teus muros somente sorrisos e sarcasmos,
No interior a rocha se decompõe.
De que tamanho queres ser rainha?
Petrifica as hostilidades e segue sem rumo,
E todas as coisas voltam ao seu lugar sem razão,
Acorda pela manhã e sente gosto amargo da tua solidão,
Molesta teus sentimentos com o cotidiano inútil e funcional,
Deixa as circunstâncias te arrastarem, não há nada para fazer
Só recolocar o castelo de cartas,
No interior tudo está fora de controle.
Williane Oliveira