Eram tantas
expectativas, extravagâncias, sonhos... E Silvia na mente: sinto que te criei
no interior da minha mente... Desejando a materialização, o êxtase! Eu estava
ali, tão pronta, nua, expressando minha dor, gritando meu amor... E o vidro não
se quebrava, duas forças antagônicas na noite rouca da angústia. E quando a
noite cai tudo piora, a casa chora minha saudade e o seu cheiro ainda paira,
ainda rasga o meu corpo que grita sua ausência. A indiferença calou minha dor: “meu
bem”, precisei entender, mesmo sem compreender.
Eu te tinha
afinal¿ eu te tinha¿
Pus a vida num
reino de vidro, nele criei sonhos e fantasias, mergulhei numa verdade surda, deixei
as portas e janelas abertas a muralha, e ela me invadiu, me sorriu... Um dia,
numa noite fria como outra qualquer ela não resistiu. Reino, muralha, nem
eu.
Estou tão
cansada da minha tristeza “meu bem” rogo para que ela me liberte, entenda que
preciso partir. Pensei em Piva “beberei veneno contra teu temperamento”, estilhacei
o reino, tudo ficou fora do lugar, juntei os cacos, extirpei meu coração, no
lugar dele costurei o nada, mas fora de mim continua a sangrar e pulsar alto
minha dor. Preciso de um banho, um colo, uma voz, preciso do fim. Rouca estive
a vagar na noite da solidão em pesadelos confusos, não espero mais a voz que
calava meu medo, mas escuto-a ao longe.
Aqui e acolá
vou me deixando, um pouco na sacada, na porta de casa, na curva do vento, na
estrada... Espalhando minha insensatez vou devolver todo esse amor.
Se te digo
adeus é por ofensa, se te digo amor é por inocência,
Mas calei-me.
Nas esquinas pairam
mudas, reina o silêncio vago, indeciso,
Das tardes que
voltaram ao gosto de nada,
De uma rainha sem
trono esquecida numa memória qualquer.