domingo, 13 de fevereiro de 2011

Noite que Arrebata


Nessa noite que arrebata, estou tal carcaça,

Fria, suja e celibata a tua espera, mas não devassa;

Na fome doce do sonho que me perpassa.

Uma andarilha arregaça; céu extremece estrelas que passam,

Uma luz se estende e faz graça da tormenta levada.

Café que esfria, mente vazia ensaia a tumba do meu amor,

Tento matar, tento enforcar, o descompasso e a dor,

Para afastar o meio-dia, a saudade e a melancolia

Da tua ausência e desamor.

Dianoiar, experimentar é liturgia; energia...

Para evocar, dissimular a noite fria da melancolia.

Não quero o seu só quero o meu, que mora em ti e me faz breu,

Para dormir e auscultar profundo mar em plenitude... noite arrebatar!

Uma Espiã no Céu


É porque eu sou noite e você dia, Mesmo assim, a gente vadia, Encontra possível medida e liturgia. É porque eu abro a porta, Você não entra e ignora, disfarça, vai embora. Sua altura e destreza só dão tamanha incerteza Dos teus anseios e esquematizações, puro receio e distração. É porque te amo que não te quero, me desespero, mas não me entrego. Não é mito, nem projeção, puro desejo sem intenção, Não é malícia, nem desrazão, apenas mergulho fundo; Passando fome, pedindo carona, tirando o Vicodin da alimentação, Na tua morada peço abrigo, peço também o teu castigo. Eu me dava para você, mesmo com todo o perigo, de não ser somente eu, Nem tu comigo, apenas instante de Prometer, um sonho turvo de enlouquecer. Mas amaria teu meio-dia, a tua força e alegria, instante raro, penetraria No teu amparo e roubaria; um olhar teu, a boca fria, o cheiro forte eu comeria, Para dizer daqui ao leito, podes crer: que te querer é padecer d´algo letal, vai se saber!

A Convivência do Íntimo



Quero um lar mais profundo, sitiada no remanso,

Longe das tormentas, livre dos abusos,

Dos montes a flor mais bela tocando as estrelas em aquarela.

Anjos dóceis a respirar,

Uma solidão mais tenra, feito água morna, silêncio d´aurora.

Bolo e primavera, tardes de sol a reluzir um lar nela que ama sorrir.

Quero o catre profundo

Entre a relva e o luar

Onde eu possa viver mudo

E o canto do repouso respirar

Anjos dóceis com pingente

Eu procuro e insisto

A curar meus olhos secos

A arrancar-me velho cisto

Quero o hálito mais sincero,

Sem anel, sem espinho, arranca, arranca o martelo

Traz paz a luz do dia.

Inunda o ocidente, resvala à melodia,

Ritmando no íntimo essa luz, que por agora, é tão distante.

E eu vejo entre espelhos

Este mundo cintilante

No dobrar dos meus joelhos

Ante a estátua majestosa do Sorriso

Eterno, etéreo, estridente em glória

Vejo o pasto manso do sossego

Desejá-lo (já) é vitória.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Alucina


Atravessa o tempo todo,

Na esquina, na rua, na distância, no ponto.

Deixa rolar!

Desejo que se desenrola um dia; ou noite.

Desejar; não esperar, não almejar,

Apenas enlace; desenlace.

Da tua raça escassa, faço graça,

Confundo o lance, fora do alcance

Colo os sonhos e as rimas,

Maquino o meio-dia, E eu morro de sol...

Bate a porta e vivência, Todo gozo e alegria,

Alucina!

Barthes, você não sabe, a terça parte da maldita carne,

Distante do símbolo e da razão; pulsa o desejo sem intenção,

Não é esquizo, não é loucura; somente riso e travessura.

Sou parte disso, você e eu, sou tudo isso, habito o teu,

Virgindade ácida exaspera e desespera a atmosfera,

Não morro disto, apenas insisto, no amor;

A crueldade que eu respiro;

Alucina!