quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Redenção



Sou lilith sim, mas não insana ou perdida,

Não me perderei no umbral, não cairei, não abnegarei,

Todo o meu encanto reside no fato de não crer em filosofias, regras morais ou vilanias,

O meu feminino sombrio persiste, existe e quer crer em mim.

Oh Lord Auch, sou lilith sim, mas não ambígua ou cega,

Não adentrarei as instâncias corrosivas em vão,

Cheia de reflexões, desconstruo e transponho os muros,

Desfaço as sínteses, erotizo e hipnotizo o mundo.

Olhe para o abismo, sinta a noite, torne-se a própria noite,

Caia no desejo habitual de perder-se, de ser uma eterna fugitiva de si mesma,

No mundo que nunca te compreendeu e te fez tão pequena,

Mas reconheça a sua face pálida, sedenta de sangue e de promessas do puro porvir,

Para conquistar, sulcar, lapidar todos os diamantes, saída do estado bruto, a redenção!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Pouvoirs du désir


A um só tempo efusivo, desmedido, hei de lançar-me ao desconhecido,
A um só tempo maquino um passeio na estepe, na clareira, no arrebol do crepúsculo.

Acometida pela febre de ternura, crueldade e sensualidade vou abrindo meu mundo,
Lavrada e sulcada para desenraizar um desejo instável, manipulador, dominador.

Eu não escrevo, eu me confesso, me desnudo e me entrego absolutamente, com isto, reafirmo
E potencializo todos os meus desejos...
O corpo, o êxtase, as mediações, os agenciamentos maquínicos
São estratos de um mesmo elo anímico, de um instante provocador.

Máscara que projeta o futuro, o devaneio e as promessas do puro porvir,
Nisto que é a única exceção, a única coesão de uma instância corrosiva, do profundo e insensato em mim.


O espaço onírico se soltou e entre os dedos o nó desatou,
Uma vontade de crisálida, o meu direito de sonhar.
Instante envolvente, uma dialética da dissimulação...
Mas mantenha a face repousada e sinta a vontade de noite, de sonho,

Pois a natureza prescinde do poder e da vontade do fantástico,

Para um renascimento alegremente trágico, supostamente fundamental.

Quase um pulsar surreal, espaço onírico das pinturas imaginativas de um Deus fingidor,
Ponho a minha fortuna no limite do impossível e estou apenas dissimulando para não sentir dor,

Escondendo, escondendo, impermeabilizo todas as influências nefastas, os rancores,
Mas sou pura liquidez... Insensatez, devaneio profundo, fidelidade e inquietação,
Parafraseando, evocando, pulsando, exalando a noite mais profunda, a absolvição.
W.O.

domingo, 11 de julho de 2010

O abismo, o Silêncio e o Impossível


Pensamento, reação e linguagem X Abismo, Silêncio e o Impossível

*

Melhor seria não pensar, agir sem resistir, apenas pulsar sem decidir. Propósito intangível? Depende da perspectiva assumida sobre o que caracteriza este “não pensar”. Qualquer pensamento instaurado no campo da dicotomia assume sempre a consistência de três elementos: pensamento, reação e linguagem. Assumindo-as, a obra homem se afasta radicalmente do abismo, do silêncio e do impossível. As funções que uma língua instaura no cotidiano seja ele formal e informal é que acaba por divergir de uma real possibilidade pura do pensamento impossível. Assim, o não pensar ganha outras matizes, a de ser ponte e travessia para um pensamento do silêncio e do impossível. Qual o lugar que pode determinar de vez este propósito inicialmente tão intangível de pensar o impossível? Nem mesmo a poesia com as suas linhas de fuga contra o sistema arrazoado da linguagem conseguem firmar tal oposiçao. Somente a arte da pintura pela realização desdobrada de um pensar que desvela e libera as instâncias primitivas pode realizar o pensamento do impossível. Contudo, boa parte das obras existentes não trabalha neste afluxo, como toda arte existente a pintura também trabalha em favor da cultura e solidificou certos parâmetros e teorias que promovem uma aproximação e desenho do cotidiano do mundo e das pessoas em geral. Esta obediência contribuiu para a construção de ideias que atendiam a solidificação de um sistema de mundo amplamente conhecido, a nossa famigerada metafísica e todas as outras instâncias ainda vigentes, cristianismo e demais subestruturas, política, ciência e costumes em geral. Todas as demais correntes de pensamento tendem a esta obediência sutil de um pensamento que pretende agrupar uma cadencia de ideias e disto afirmar: o mundo é isto. Em geral, apenas supõem modismos de pensamento de épocas variadas, enxugadas e tolhidas para atenuarem a tensão dos impulsos primitivos que sempre tendem a se desprenderem da razão. Obviamente que os movimentos presentes na pintura são caracterizáveis e teorizáveis a obedecerem a uma sequência linear de forma que atende a essa mesma cadeia de pensamento presente a ordem da razão. Classicismo, Renascimento e etc, todas trabalham nesta cadeia de arrazoamento do pensamento, e estejam certos que no Louvre não será encontrado um único indício da tentativa fracassada em pensar o impossível. Contudo, esta tentativa não passa despercebida ao olhar contemporâneo, a despeito das considerações de Dufrenne, reconheço que a inteligência da obra pode se mostrar ao realizar-se como objeto estético teorizável, mas, quando esta Inteligência se desarraiga dos ditames da razão e busca um apelo sem contornos no espanto do impossível, aí, a espontaneidade e liberação das instâncias primitivas fracassam como ideal de humanidade, somente aí, a obra em gestação atende ao apelo da experimentação e do sentimento de liberação/libertação. Contemporaneamente encontramos este apelo desdobrado em Jackson Pollock. Ele realizou o contramovimento no qual Nietzsche promulgava como experiência de transposição de todo o nosso niilismo, tentativa de restituição dos códigos existentes pelas instâncias liberadas, descodificas mesmo, nada de novo sendo dito no campo do pensamento, apenas remissão e exemplificação do que já foi dito em Nietzsche, Klossowski e apreendido de maneira incisiva e espontânea pela pintura descodificada de Pollock. Contramovimento, desterritorialização, descodificação, espontaneidade criadora, todos são elementos conhecidos para pensar uma pintura que se afasta de um objetivo como forma estética no sensível para se liberar como pensamento do impossível. Pollock como pintor instável e com tendências esquizofrênicas nem mesmo buscou o impensável, apenas potencializou as constantes alterações dos fluxos de seu corpo doente, tal como afirmou Klossowski sobre Nietzsche, ele, Pollock, estava constituído deste mesmo fluxo, uma extrema sensibilidade ao mundo cotidiano e formal, era preciso extenuar o real efetivo para fracassar no pensamento do impossível, sua pintura silenciava todas as instâncias morais, pressentimento contínuo de que o inconsciente era o abismo reluzente e saber trabalhar em favor disto sem se desconectar completamente do real efetivo era a grande questão.

O abismo, o Silêncio e o Impossível


Pensamento como Língua
*
Um pensamento que precisa de uma língua para significar se afasta do impossível. Ela se torna essencialmente pensamento de objetificação ou pensamento para entificar, se recorrermos à leitura Heideggeriana. Uma língua passa a ser portadora de meias verdades, de jogos de espelhos, pois, apenas sugerem imagens contraditórias e desconexas de eus. Os corpos ali dispersos nada sabem de sí mesmos, apenas tomam um reflexo caricato da realidade, portanto, a linguagem é sempre reflexão turva da realidade, e seus representantes saem desconfortados com a imagem grotesca idealizada no jogo de espelhos. Por esta razão, o cristianismo conseguiu solidificar com tanta destreza o seu pensamento turvo, pois, em seu jogo de espelhos, o sofrimento coletivo do grotesco é criador da má consciência* e assim, se nega a vida completamente. Faz parte dos códigos lingüísticos negarem o pensamento em pura potência, que é impossível e essenciante. E pensar em pura potência seria despertar o impossível em silêncio. E mais estranho que a bondade é pensar para fazer crescer o desconhecido e silencioso que pinta a obra homem. Estas descontinuidades não fogem da língua e tampouco do pensamento, apenas são tarefas deste processo que se pretende como “super-ação” de um projeto já fracassado sobre o impossível. Mas, o começo do fracasso pode representar menos a sua desrazão do que os esforços lógicos em representá-los como validação de algo, já que é a obra homem um projeto incompleto, inacabado, portanto, um joguete do impossível. Nietzsche parece relativizar que o pensar é algo ilusório, pensar como sintoma de impotência, visto que o pensamento já sugere uma adequação própria da linguagem, ela está neste sentido impotente e fracassa como pensamento do impossível. E assim parece se mover o pensamento de Klossowski sobre a origem da semiótica das pulsões, nela, a potência é desde já a força de resistência que imperará em oposiçao a necessidade de ceder à reação. Um estado exaltado de morbidez resiste aos excessos da potência em seu processo de superabundância, penso que esta característica resvala todo um processo de reação artística contra uma realidade política e cultural mediana. Deste processo interiorizado surge toda uma gama de pensadores malditos que são caracterizados como niilistas decadentes e subversivos. Toda a cultura que se moveu nos séculos precedentes em oposiçao ao pensamento dicotômico persiste como força de resistência ou o niilismo de resistência*. Deleuze dizia que um puro espírito não é aquele que dá respostas muito profundas, nem muito inteligentes, sugeria também em seu abecedário uma série de vilanias próprias dos intelectuais ao se definirem como os detentores do conhecimento, da língua e até mesmo de sua dobra leibniziana, assim, os donos da casa se afastam do abismo, do silêncio e do impossível.

sábado, 10 de julho de 2010

O abismo, o silêncio e o Impossível


Pensamento Possível do Impossível

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O que significa envelhecer? A mutilação dos nossos sonhos, apagarem o fogo da humanidade, extirpar o nosso desejo, esquecer ou brutalizar o nosso infante? O instinto que havia potencializado a vida foi decomposto nas árvores podres da razão. A semiótica das pulsões renegada e posta em porões do isolamento. Nós, os espectadores e vilões desta carnificina, assistimos mudos a fanfarronice teatral onde todos os egos inflamados já instituíram um mundo cheio de ironias e representações. E antes de tudo, quem fala? É o mundo que grita ou o artífice que tudo classifica? Contra a vontade endureço minhas emoções, plastifico sentimentos e instauro o arrazoamento das entificações. Contudo, a desconexão da angústia da floresta me revela onde habito, sobre a incompletude do nada que me toca. Desse tão junto do mundo que só afasta e revela inadequações. O convite a minha deformidade pode ser o prelúdio da queda. Não escrevo poesias tampouco inscrevo filosofias, escrevo confissões, relatos de minhas experiências malfadadas e malogradas ao acaso que revelam formas disformes, indecisões e contradições ao acaso. Não pretendo engrandecer ou validar diplomas de atenção, mas prescindo em divergir e escarnecer os formatos ultrapassados de entendimento. Estranho e solitário, mas mudo não, pois, mesmo em silêncio as ideias persistem em agonia e conflito. Mais estranho que a bondade é o mapa do desejo queimando em sua carne, e prelúdio do amor. E isto não esgota, se transmuta, apenas varia de sensibilidade como gozo da própria ideia, quase um dinamismo da ação. Uma “super-ação ” que é a ultrapassagem da própria ação. Os amigos falam de poesia ação, mas tudo o mais das potências da vida podem ser “super-ação” e assim, se revela a inteligência da obra homem, ter um gesto que se transmuta e sonha. A ideia ficcional de eus que ao serem personagens são reais sonhados é mais válida que o próprio real. Com isto, Unamuno sai germinando a ideia de um Deus sonhador, Deus sonhando você, a mim, a todos. Mas a “super- ação” das potências da vida são para além disso, os personagens reais sonhados são parte do mundo imaginário da obra homem que se transmutam em Deuses sonhadores. Como uma pintura que obedece ao apelo da obra homem, pintamos os personagens reais sonhados em nosso Ser e essa espontaneidade criadora determina todo o processo imaginário da humanidade. Em contrapartida, toda a nossa inteira cultura persiste em afirmar o processo imaginário como parte lúdica de nossas vivências, e não o real mesmo. E assim, a nossa “pintura-imaginativa” numa tradução, a nossa pintura que sonha as ideias que realizam a obra homem, permanece como estranhamento ou pensamento do impossível.