domingo, 11 de julho de 2010

O abismo, o Silêncio e o Impossível


Pensamento como Língua
*
Um pensamento que precisa de uma língua para significar se afasta do impossível. Ela se torna essencialmente pensamento de objetificação ou pensamento para entificar, se recorrermos à leitura Heideggeriana. Uma língua passa a ser portadora de meias verdades, de jogos de espelhos, pois, apenas sugerem imagens contraditórias e desconexas de eus. Os corpos ali dispersos nada sabem de sí mesmos, apenas tomam um reflexo caricato da realidade, portanto, a linguagem é sempre reflexão turva da realidade, e seus representantes saem desconfortados com a imagem grotesca idealizada no jogo de espelhos. Por esta razão, o cristianismo conseguiu solidificar com tanta destreza o seu pensamento turvo, pois, em seu jogo de espelhos, o sofrimento coletivo do grotesco é criador da má consciência* e assim, se nega a vida completamente. Faz parte dos códigos lingüísticos negarem o pensamento em pura potência, que é impossível e essenciante. E pensar em pura potência seria despertar o impossível em silêncio. E mais estranho que a bondade é pensar para fazer crescer o desconhecido e silencioso que pinta a obra homem. Estas descontinuidades não fogem da língua e tampouco do pensamento, apenas são tarefas deste processo que se pretende como “super-ação” de um projeto já fracassado sobre o impossível. Mas, o começo do fracasso pode representar menos a sua desrazão do que os esforços lógicos em representá-los como validação de algo, já que é a obra homem um projeto incompleto, inacabado, portanto, um joguete do impossível. Nietzsche parece relativizar que o pensar é algo ilusório, pensar como sintoma de impotência, visto que o pensamento já sugere uma adequação própria da linguagem, ela está neste sentido impotente e fracassa como pensamento do impossível. E assim parece se mover o pensamento de Klossowski sobre a origem da semiótica das pulsões, nela, a potência é desde já a força de resistência que imperará em oposiçao a necessidade de ceder à reação. Um estado exaltado de morbidez resiste aos excessos da potência em seu processo de superabundância, penso que esta característica resvala todo um processo de reação artística contra uma realidade política e cultural mediana. Deste processo interiorizado surge toda uma gama de pensadores malditos que são caracterizados como niilistas decadentes e subversivos. Toda a cultura que se moveu nos séculos precedentes em oposiçao ao pensamento dicotômico persiste como força de resistência ou o niilismo de resistência*. Deleuze dizia que um puro espírito não é aquele que dá respostas muito profundas, nem muito inteligentes, sugeria também em seu abecedário uma série de vilanias próprias dos intelectuais ao se definirem como os detentores do conhecimento, da língua e até mesmo de sua dobra leibniziana, assim, os donos da casa se afastam do abismo, do silêncio e do impossível.

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