domingo, 11 de julho de 2010

O abismo, o Silêncio e o Impossível


Pensamento, reação e linguagem X Abismo, Silêncio e o Impossível

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Melhor seria não pensar, agir sem resistir, apenas pulsar sem decidir. Propósito intangível? Depende da perspectiva assumida sobre o que caracteriza este “não pensar”. Qualquer pensamento instaurado no campo da dicotomia assume sempre a consistência de três elementos: pensamento, reação e linguagem. Assumindo-as, a obra homem se afasta radicalmente do abismo, do silêncio e do impossível. As funções que uma língua instaura no cotidiano seja ele formal e informal é que acaba por divergir de uma real possibilidade pura do pensamento impossível. Assim, o não pensar ganha outras matizes, a de ser ponte e travessia para um pensamento do silêncio e do impossível. Qual o lugar que pode determinar de vez este propósito inicialmente tão intangível de pensar o impossível? Nem mesmo a poesia com as suas linhas de fuga contra o sistema arrazoado da linguagem conseguem firmar tal oposiçao. Somente a arte da pintura pela realização desdobrada de um pensar que desvela e libera as instâncias primitivas pode realizar o pensamento do impossível. Contudo, boa parte das obras existentes não trabalha neste afluxo, como toda arte existente a pintura também trabalha em favor da cultura e solidificou certos parâmetros e teorias que promovem uma aproximação e desenho do cotidiano do mundo e das pessoas em geral. Esta obediência contribuiu para a construção de ideias que atendiam a solidificação de um sistema de mundo amplamente conhecido, a nossa famigerada metafísica e todas as outras instâncias ainda vigentes, cristianismo e demais subestruturas, política, ciência e costumes em geral. Todas as demais correntes de pensamento tendem a esta obediência sutil de um pensamento que pretende agrupar uma cadencia de ideias e disto afirmar: o mundo é isto. Em geral, apenas supõem modismos de pensamento de épocas variadas, enxugadas e tolhidas para atenuarem a tensão dos impulsos primitivos que sempre tendem a se desprenderem da razão. Obviamente que os movimentos presentes na pintura são caracterizáveis e teorizáveis a obedecerem a uma sequência linear de forma que atende a essa mesma cadeia de pensamento presente a ordem da razão. Classicismo, Renascimento e etc, todas trabalham nesta cadeia de arrazoamento do pensamento, e estejam certos que no Louvre não será encontrado um único indício da tentativa fracassada em pensar o impossível. Contudo, esta tentativa não passa despercebida ao olhar contemporâneo, a despeito das considerações de Dufrenne, reconheço que a inteligência da obra pode se mostrar ao realizar-se como objeto estético teorizável, mas, quando esta Inteligência se desarraiga dos ditames da razão e busca um apelo sem contornos no espanto do impossível, aí, a espontaneidade e liberação das instâncias primitivas fracassam como ideal de humanidade, somente aí, a obra em gestação atende ao apelo da experimentação e do sentimento de liberação/libertação. Contemporaneamente encontramos este apelo desdobrado em Jackson Pollock. Ele realizou o contramovimento no qual Nietzsche promulgava como experiência de transposição de todo o nosso niilismo, tentativa de restituição dos códigos existentes pelas instâncias liberadas, descodificas mesmo, nada de novo sendo dito no campo do pensamento, apenas remissão e exemplificação do que já foi dito em Nietzsche, Klossowski e apreendido de maneira incisiva e espontânea pela pintura descodificada de Pollock. Contramovimento, desterritorialização, descodificação, espontaneidade criadora, todos são elementos conhecidos para pensar uma pintura que se afasta de um objetivo como forma estética no sensível para se liberar como pensamento do impossível. Pollock como pintor instável e com tendências esquizofrênicas nem mesmo buscou o impensável, apenas potencializou as constantes alterações dos fluxos de seu corpo doente, tal como afirmou Klossowski sobre Nietzsche, ele, Pollock, estava constituído deste mesmo fluxo, uma extrema sensibilidade ao mundo cotidiano e formal, era preciso extenuar o real efetivo para fracassar no pensamento do impossível, sua pintura silenciava todas as instâncias morais, pressentimento contínuo de que o inconsciente era o abismo reluzente e saber trabalhar em favor disto sem se desconectar completamente do real efetivo era a grande questão.

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