domingo, 16 de novembro de 2008

a aurora da fada


A fada suicida volta a se insinuar, liberou-se dos sonhos.
Uma névoa voraz a pairar sobre a fronte do cavaleiro a minguar.
Ele busca a paz em meio à podridão,
Mas somente depara-se com a sua solidão.
Sempre retornas ao lar, pretensa melancolia,
Inclinas-te sobre o mármore, refaz a lâmina fria.

Teus anseios de outrora negros são agora veneno fétido de teus medos,
Éis o último homem da aurora, aquele dos velhos dogmas,
Preso a floresta devastada pelo medo cego da incompreensão.

Oh fada suicida, volta aos teus campos idílicos,
Séculos de tormentos não aplacaram tua dor,
Emudeceste meu coração com a rigidez de teu ódio implacável,
Danças na pedra fria da dor dos homens,
Presenteias os semblantes com rosas sombrias e apáticas os guerreiros em dor
Mas o azul que se espalha por todas as arestas há um dia de voltar,
Aos meus campos agora adormecidos e o cinza deixará de habitar o meu lar
E da minha árvore irá brotar lindas flores que habitarão o céu harmonioso de um dia de verão.
E você fada, voltará a sonhar em teus campos sobre uma aurora verdejante de um puro ser,
De um mundo sem dor.

Indissociação do olhar


Quase sempre te observo em mim, na forma indissociada do meu olhar, na perenidade dos sentimentos metamorfoseados das distâncias que nos circundam, como um dia de chuva, gotas que caem incessantemente, perfazem seu caminho através do céu, toca as extremidades, percorrem as cores do mundo, os dois céus. Um céu que escuta e um céu que devora. Será que hoje o que vejo são apenas as sombras do nosso passado? O seu olhar se dissipou nas nuvens angustiantes que em ti pairavam?
Por ora, o que sei de mim, é que a minha única companheira tem sido a solidão de outrora, e foi tudo que restou da minha infância roubada, e hoje é tudo que me lembro... Sua frieza gelou meu coração, me fez lembrar que eu forjei meu coração no aço e na dor, que eu violento todos os meus sentimentos para permanecer viva, que eu estou condenada a estar eternamente dividada, entre viver em morte e não poder morrer em vida, ou de vida. E ter a triste certeza que não existe um porto para me ancorar, um dia de sol depois da tempestade, e a paz do entardecer faz ter o pior sentimento possível a um ser. Piedade de sí mesmo.
E o reconhecimento do meu fracasso perante a vida é ainda mais desolador. Não tenho a quem culpar, nem mesmo a mim, pois o mundo é só o que é mesmo, acaso, acaso e acaso. Você era a última conexão com o meu passado, onde eu ainda podia sonhar um pouco. Ponho uma pedra em ti, findo inevitavelmente com quem achei que era. Eu dou apenas um suspiro para a minha dor, porque cair é sempre a conseqüência última de cada ato que enceno. Eu concebo cada coisa que sinto como um ato sagrado, talvez por esta razão, tudo é tão determinado em minha vida, tão dramático e maculado.
Agora sou apenas um fantasma do meu próprio passado, uma sombra que adormece nos campos de Avalon com suas crenças maravilhadas de um mundo mais feminino e que agora jaz como feminino sombrio. O mundo não tem mais lugar para Deus, ou deuses, só restam as solenidades apáticas de seres distanciados e medíocres, não tente buscar filosofias cegas e vãs em terreno infértil, pois isto só será fonte de mais sofrimento, mas dizer não é suficiente, gritar pelos arredores do mundo também não vai influenciar as suas decisões, pois, a tua busca cega continua em meio às ruínas de teu coração frio e insensato. O que há de pitonisa em mim insiste em avisar a humanidade à desdita da vida, mas o que há de sacerdote em ti prevalece nas mentiras forjadas em teu coração corrompido e cego. Emudecerei as tuas meias verdades e gritarei em silêncio, de horror ante as doenças infringidas em ser.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A travessia



A luz, a profundidade, atravessou carne e espírito,
E delas brotaram um infinito de cores despertos em mim.
Um incêndio ensombrecido marginalizado nos odores exalados,
Das inconstâncias de um profundo em cores, da flor azul.

Mas quando amanha, a manha não retornar e o escuro em mim ficar,
Será que encontrarei as sombras que habitam?
Os espaços cognoscíveis de meu consciente despertos exprimem
O circo horrífico da vil humanidade, decompostos nos teatros marginais,
De um vulto que bate a porta. Precipitado, despido e expurgado do inferno.
Se eu não posso ser eu mesma, é melhor que eu pereça na intangibilidade dos mortos

Mas quando você acordar do profundo sono do egocentrismo puro, abstrato e surreal,
O que restará do mundo construído e abnegado?
Vários sóis parecem despertar e uma nova aurora há de chegar,
Milênios de tempestades e noites cinzentas ungiram a minha mãe,
E a prometida sempre cumpre a sua profecia,
E a criança ainda sim habita a profundidade, nos mundos desditos e incompreendidos da humanidade.

Eu olho a minha volta e as fogueiras estão acesas,
Eu procuro um abrigo, mas as árvores estão mortas,
E eu não tenho asas, e somente o anoitecer cobrirá toda a angústia,
E desmentirá toda a insanidade desperta nas luzes opacas das pupilas dilatadas de outrora,
Dos conflitos exaltados sobre filosofias cegas e sem razão, dos pastores lunáticos sem paixão,
Mas das cinzas ressurge a fênix, a de muitos nomes, aquela renegada, renascida da memória ardente de uma lady Godiva, das travessuras sabáticas de pseudo-anatomistas,
Em queda fui ungida, uma lilith arguta, assumida...

W.O.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Corpo operante


Entrelaçado de visão e de movimento,
Deslocamento de minha paisagem,
Minha clarividência onipresente.

Olhar como anteparo do visível,
Olhar como reflexo do invisível,
Prolongo meu corpo sobre o mundo,
Capto as inscontâncias do olhar do meio,
Da singularidade do meu corpo que cai.

E o meu olhar é inesgotável,
De reflexos infinitos; os outros indissociados.
O mundo se abre nas folhagens.
Quero ser árvore como Silvia,
Com raízes no solo, crescer até o céu,
Repousar sobre as nuvens, espionar a lua.
Findar as inconstâncias do mundo,
Eternizar meu olhar indissoluto e puro.

Quero pintar o invisível nas entrelinhas,
Um espírito de Malebranche; passeador onírico.
Concentrar o universo em tuas cores,
Habitar na fascinação descontinuada da circularidade,
Desenhar constelações infindas de teu corpo,
Ser traspassado pela pungência corrosiva,
E continuamente renascer em versos, estrofes, poesias.

domingo, 7 de setembro de 2008

Todas as Crianças são Insanas



Todas as crianças são insanas, como nós,
Insanos em nossas dores, ironias, odores.
Porque o mundo se cala quando o medo se instaura,
Porque tua pele resplandece a aurora infinda das marés,
Na agudeza torpe de teu semblante.

A frieza depressiva das florestas,
A tragédia absurda das visões noturnais,
São admoestações ancoradas no seio viscoso da terra,
Pedaços de memórias tristes ancestrais.

Parte do meu espírito esqueceu de mim,
A outra parte lembrou de você.
O receio do esquecimento de mim partiu,
Mas o martírio oculto do velamento, enraizou-se em nosso mundo.

Profundo são os ventos que nos tocam,
Como as marés nas rochas, a vibração das ondas,
A oscilação profunda dos sonos angustiantes,
A entrada repentina na cabana,
O sono onipotente, amargo,
Pesadelos confusos oriundos dos cogumelos

As criações são engenhos malignos de máquinas hostis a poesia,
As imagens refletidas são pulsações energéticas,
Das ervas daninhas petrificadas,
Do solo vigoroso, das raízes ocultas,
Do mundo ominoso.

Não há nada aqui de novo,
Só o alto da janela, os pombos, a visão do mar.
O tédio flutuante, o vento sibilante, o meu mundo inconstante.

Os sinos tocam e oculta o grito da criança,
A mimética das formas, das canções infernais,
Das almas dos malditos a me incomodar.
E todas as crianças são insanas,
E o universo grita as suas perdas.

Williane Oliveira.



terça-feira, 2 de setembro de 2008

Eu estava morta


Ponha a si mesmo em uma caixa, pois a realidade desfoca tudo,
Deixe as vozes perturbadoras gritarem sozinhas, pois a anarquia não é suficiente.
A sua dose de realidade diária tome com gim Tônica.
A sua carcaça podre lave com criolina, e não deixe que os fétidos ratos durmam nela.
Desça o mais baixo que você puder para sentir as falsas glórias de tua escória,
Pois só assim você se sentirá melhor em tua fanfarronice, sua sórdida miséria.


O veneno insípido de suas palavras, o odor fétido das tuas vozes,
Em algum lugar distante da realidade são dissonâncias malignas de teu rastro.
As línguas queimam as estruturas semânticas, a ordem da razão, da esperança.
Os mundos colidem em redundância na desventura, nas circunstâncias.


No mar aberto, no abismo reluzente, existe um espaço ardente,
Do desconforto das sentenças morais, da morada insana,
No mais íntimo da liberdade humana.
O inverso dos pseudo-sentimentos, um feminino sombrio!
Encoberto por eras de monstros malignos, pervertidos em chamas.
E eu estava morta em minha incompletude, em meu descaso,
No discurso ambíguo das confissões e dos ocasos.
W.O.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O espelho das confissões


Sobre o espelho eu tento resistir aos meus desejos,
Mas eu não sei quem eu pretendo ser, ou quem eu confesso...
E nenhuma razão destoa da insensatez em mim.
Emocionalmente incompleta, resisto aos meus pensamentos,
Divido o mundo em dois, erros e confissões.
E o meu desejo se confessa ao espelho,
Sussurra o que eu me tornei, e eu não posso negar...
Quando eu tento encontrar um caminho,
Não resisto aos meus pensamentos, meus desejos...
Não resisto ao gosto do nada,
Do oscilante das marés nauseantes,
Dos sonos angustiantes...
O espelho confessa a razão do silêncio,
Da fada suicida, da lilith arguta, assumida...
Das pretensões filosóficas, do irônico da minha tristeza...
E eu não sei quem eu pretendo ser, ou quem confesso...
E nem do meu desejo posso provar, nem de mim eu sei.
Não há razão para saber, não sei quem eu quero ser, quem eu deveria...
O espelho me confessa a angústia sufocante, o veneno hostil, as águas profundas,
Sussurra o que eu me tornei, e eu não posso negar...
A ponte suspensa no nada, o desequilíbrio constante,
Um ponto vago no firmamento, o reflexo de corisco.
Mas as palavras são promessas imaturas de meus erros e isto eu confesso...
Olhando o espelho das confissões de mim mesma os meus desejos prevalecem
Na angústia constante das sombras do que eu me tornei, e isto eu confesso...
W.O.

A razão do silêncio




Minha insensatez é a razão do silêncio absoluto que reina nas paragens
Meu riso é dissociado dos meus sentimentos mais profundos,
Sou alheia a quase tudo que finjo sentir, sou o esforço incompreendido em mentir.
Do milharal guardei as dores nefastas do mundo, os demônios atrozes,
Do meu grito silencioso o universo estéril chorou,
Por uma criança que em lamentos extirpou o próprio coração.
Um coração ardente em chamas, extinto em vida.

domingo, 31 de agosto de 2008

Cavalos Selvagens



Os sonhos? São tantos...E todos esquecidos,
E enterrados em caixas de abelhas,
Velados como doces ilusões de mundos transparentes, opacos...
E você fecha a porta, tranca as minhas decisões.
Cavalos selvagens cavalgam ao luar na noite cinzenta,
E a vida se torna um flagelo.

Atravesso mil oceanos, tempestades e neblinas,
Escureço o mundo com minhas incertezas,
Meus demônios são fragmentos da minha morte.
Minhas cicatrizes são como libélulas,
Sou o fruto proibido de auroras doentias,
Como forças grotescas no interior da perversidade.

As minhas fantasias são sinfonias solitárias,
O meu deleite são os meus segredos, minha caixa de pandora.
Meu veneno doce causa uma morte reluzente,
Minhas idiossincrasias são rios temporários,
E a vida se torna um flagelo.

Cruzo rios secos, sertões em guerra para entreter minha alma de você,
Abro portões para as bestas selvagens dos mundos adormecidos,
Divago nas emoções que sinto, mas os cavalos selvagens cavalgam ao luar,
E lá fora o tempo passa sem cessar,
E a vida se torna um flagelo.

Dou continuidade aos sonhos, a anarquia do mundo,
A revolta armada absoluta da dissociação do humano.
As sombras descontínuas do semblante imaginário.
E a vida se torna um flagelo.

As Flores Doentias




A figura de um poeta é retratada nos traços de sua poesia, que desvela a sua alma através da linguagem, deixando ao mundo a reflexão de uma alma, que viveu em constante investigação acerca da compreensão do homem. Dessa forma foi o homem Baudelaire, como queiram dizer:
“O grande arquétipo do poeta à época moderna e de todos os tempos”. P.E.
É o interrogador da alma, da psique humana, que mergulhando fundo nos abismos infinitos da mente, consegue transportar para sua poesia uma crítica visão sobre o homem no mundo, denotando um pessimismo radical, de onde emergirá, porém, uma fonte de energia e fecundidade, do que há de verdadeiramente humano.
A sua poesia revela um grande senso plástico e visual, onde faz quase sempre uma relação dos objetos e formas materiais com os aspectos do comportamento e da mente humana.Descobrir a arte nos anseios e vícios humanos revolucionou toda a literatura posterior.
Não se deve falar em mudança de paradigma, ou quebra de conceitos e sim de um homem que começa a precipitar-se no abismo de sua alma, entorpecido pelo tédio fatigante do homem parisiense que se ilude com as volúpias e diversões do seu século.
O eterno conflito dilemático sobre a carne e o espírito, entre ascensão e queda, perpassam a obra baudeleriana, refletindo ao que veio a ser chamado de “antevisão estética”. Essa antevisão estética é marcada pela influência da literatura gótica no romantismo francês, descrito como o “satanismo baudeleriano”.
“Sempre me obcecou a impossibilidade de compreender certas ações ou pensamentos súbitos do homem sem cogitar da hipótese da intervenção de uma força perversa e que é alheia”. C.B.
Dessa relação conflituosa, o satanismo baudeleriano aparece como a identificação com natureza própria do homem.
Ó tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,
Deus que a sorte traiu e privou do seu culto,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Ó Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,
E que, vencido, sempre te ergues mais brutal,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,
Charlatão familiar das humanas insânias,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, mesmo ao leproso, ao paria infame, ao réu
Ensinas pelo amor às delícias do Céu,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que da morte, tua velha e forte amante,
Engendraste a Esperança, - a louca fascinante!
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar
Que faz ao pé da forca o povo desvairar,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que sabes onde é que em terras invejosas
O Deus ciumento esconde as pedras preciosas.
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu cuja larga mão oculta os precipícios,
Ao sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, magicamente, abrandas como mel
Os velhos ossos do ébrio moído num tropel,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre
De poder misturar ao enxofre o salitre,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que pões tua marca, ó cúmplice sutil,
Sobre a fronte do Creso implacável e vil,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, abrindo a alma e o olhar das raparigas a ambos
Dás o culto da chaga e o amor pelos molambos,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Do exilado bordão, lanterna do inventor,
Confessor do enforcado e do conspirador,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria !

Pai adotivo que és dos que, furioso, o Mestre
O deus Padre, expulsou do paraíso terrestre
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria !
ORAÇÃO
Glória e louvor a ti, Satã, nas amplidões
Do céu, em que reinaste, e nas escuridões
Do inferno, em que, vencido, sonhas com prudência!
Deixa que eu, junto a ti sob a Árvore da Ciência,
Repouse, na hora em que, sobre a fronte, hás de ver
Seus ramos como um Templo novo se estender!

O mergulho da poesia de Baudelaire, no íntimo do homem, revela a sua curiosidade e o questionamento das forças ignotas que desterra o homem de sua aparente normalidade, identificado-o com uma força demoníaca desconhecida, mas que ao mesmo tempo liberta o homem do tédio que encurrala, não permitindo a sua elevação seja espiritual ou intelectual. E incorporando a linguagem romântica os aspectos dessa natureza grotesca caracterizada pelos vícios humanos.
Esse universo poético descreve uma relação paradoxal com a natureza, que em primeiro momento é influenciado pelo romantismo, onde anseia pela libertação do homem, no qual se encontra preso nas zonas urbanas, a alusão ao tédio, talvez uma sensação causada nele, o “tédio de Paris”. Um tédio acompanhado de um pessimismo radical que se instaura no homem é a chave para a sua libertação como pensador.
“A energia de viver brota do devaneio e do tédio”. C.B.
A perda de todas as ilusões, causadas pelo choque com a realidade, traz a sensação de angústia e são características desse tédio, que aparece como destino do homem ocidental.

distant ways


A candle is shining
Revealing secret feelings in my mind
Hope and a will devoted for a “desire”,
A desire that never goes away
Under my skin, over my body,
All the shadows disappear
With the taste of a desire

Beyond all fantasies,
The horsemen come across the desert,
For find a lost oasis,
The princess stays under nightmares,
In a hope of the charmed be broken,
And all your fears turn into sweet poetries

A pale rain falls down,
Covering my dreams
Of reflections about a mankind
Is there a hope for love?
Or just empty words and illusions
So i play my guitar
For giving me any solitude
For this feelings that never goes away

Beyond all sorrows
And distant of my world
A rebel rider comes to me
And show me a treasure
Just simple words and a “desire”
A “desire” that never goes away
W.O.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A Revelação de Lilith





Seus jogos sinuosos tentam revelar o que sinto, mas eu tenho meu próprio caminho,
Faço sombras onde só há deserto, recuso a historiografia dos seres,
Das formas concretas, sou alheia a quase tudo que perverte o instinto.
Me deixastes sem lar, sem voz, amparada no receio do esquecimento,
Respirando o vento cortante das marés nauseantes e angustiantes em mim.
Sobre a água guardei meus mistérios e velei a entrada do meu ser,
E retorno sempre à construção infindável de meu livro aberto.
Exalo o cheiro do jardim efêmero, irradio os segredos de psique,
Manipulo os sonhos indizíveis em meio as suas flores mortas,
Subjugo o seu coração triste e resvalo o demônio que há em mim,
Surpreendo os seus impulsos, sou sua Anaïs Nin,
Mas não tente revelar o que sinto, eu tenho meu próprio caminho.

W.O.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008


A Herética Dama

A herética dama atende o teu chamado, conde negro das papoulas alucinógenas,
Das saudações pagãs, dos beijos fraternais, das distâncias que corrompem os mundos adormecidos. Em paz, sonho com sua vinda, sua esperança e clamor.
Estou febril no que não posso tocar, mas as estações mudam, os corpos também,
Consuma meu ódio, me leve para o universo paralelo das tentações, dos paraísos artificiais.
De todo o meu ser, o que você realmente quer?

A sua linguagem constante, desconcertante, são abstrações sem razão,
Os seus princípios são figuras surreais de seus verdadeiros instintos.
Hey, um anjo voa em blasfêmia, e vê sua face surpresa.
As suas confissões são fugas repentinas do que te consome,
A sua simpatia desmerece o caráter instintivo dos teus anseios,
Hey, um anjo voa em blasfêmia, e devora sua carne.


A herética dama atende o teu chamado, conde negro das papoulas alucinógenas,
Caio no profundo dos teus sonhos, do amargo do haxixe,da inconstância das conexões.
Acordo no desalento do cotidiano, no cadafalso das ilusões.
Hey, será que foi o feitiço da lua que trouxe o encantamento para o meu jazigo de solidão?
Ou travessuras de bruxas apáticas liberando o perfume das papoulas alucinógenas?
Que triste tarde esta que não encontro repouso sem meu sonho,
Aqui fora faz muito frio, mas a lua tem seus encantos.

W.O.

Fantasia




Cadê você? Procuro-te nos lugares mais distantes da minha alma,
Mas eu não sinto o caminho, mas eu sou uma jogadora,
Uma intrusa em sua floresta, em seu santuário de flores mortas.
Porque você quebrou algo em mim, despertou a minha lilith,
Mas você me procura e me afasta com seus labirintos, seus jogos.

Eu te vejo atrás dos muros tecnológicos,
Sinto tuas dores, conheço seu mundo como ninguém.
A sua fragilidade obtusa, seus odores.
Sou devota da sua revolta, dos seus temores.

Cadê você? Procuro-te nos lugares mais distantes da minha alma,
Eu destruo seu mundo aparente, corrompo seu inconsciente,
Libero seus desejos bestiais, no profundo das tuas rosas mortas,
Mas você me procura e me afasta com seus labirintos, seus jogos.

Eu te sinto atrás dos simbolismos,
Vejo suas fraquezas, conheço seu mundo como ninguém.
A sua melancolia profunda, seus odores.
Sou sua garota dissolvida, sua fantasia.

Cadê você? Procuro-te nos lugares mais distantes da minha alma,
Eu sou sua ruína, seu narcótico. Mas eu sou uma jogadora,
Uma intrusa em sua floresta, em seu santuário de flores mortas,
A espera do conde negro, das papoulas alucinógenas.
Mas você me procura e me afasta com seus labirintos e jogos.


W.O.

sábado, 9 de agosto de 2008

Para além da humanidade


Eu atrevo-me a recordar, os nossos dias de um tempo brilhante.

Das janelas e frestas abertas, das espumas dançantes,

Um sopro, uma luz, respirações ondulantes,

Um mundo inteiro aberto, uma ode aos corações selvagens.

Eu atrevo-me a recordar, as estrelas, o fundo dos oceanos,

O irônico da minha tristeza, das dores infindas, das sombras da humanidade.

E guardei em mim todas as dores, o trágico em si,

Dos momentos inoportunos, das respostas sobressaltadas.

Mas eu atrevo-me a recordar, do que há de bom em mim.

Para além da masmorra rompeu-se o espelho dos sonos angustiantes, do imaginário constante.

Em algum lugar fora do mundo, em algum labirinto estático, nauseante.

E o universo inteiro gritou, e eu atrevo-me a recordar,

Um novo mundo, para além da humanidade.

Williane Oliveira

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O Espírito do Niilismo



“O espírito do niilismo precede a atividade do niilismo”.

O espírito da negação parece ser o espírito de nossa época, negamos tudo que somos para sermos um pouco mais que os demais. Os demais a que me refiro é aos 99% da parcela da humanidade que vivem em conformidade com o seu tempo. São como galhos levados pela correnteza do rio, mas nós, 1% (este percentual ainda parece-me muito), vivemos a margem, somos as duras raízes que deitam na terra com infindáveis memórias e destinações fatais, carregamos o peso da arrogância, do orgulho que se transmuta nas pesadas gotas anunciadas por Zaratustra. Não nos contentamos em sermos levados pela correnteza do rio, queremos o mar e os seus insondáveis mistérios, talvez um retorno às origens do mundo. Navegar máres cada vez mais distantes, mergulhar sem vontade de retorno. Mas os que são levados pela correnteza, ainda tem tempo de buscar a margem ou tentar um caminho ainda mais penoso, retornar ao mar, porque um dia pertencemos a ele, mas infelizmente, grande parte se desarraigou, os que tiveram força suficiente deitaram raízes nas margens, para não serem levados pela correnteza, e para isto é preciso ter muita força.

A compreensão do que digo parece fácil, a experiência de viver sobre a dureza do chão frio do niilismo é que é difícil. Atravessar a longa noite sem archotes ou velas, ter a dureza necessária de espírito, renegar aquilo que aparentemente somos, para sendo menos, sermos mais. É uma filosofia do nada nihil, não é doutrina, nem mesmo corrente de pensamento, além disso, é preciso não confundir a profusão das forças que operam o niilismo, pois o espírito do niilismo precede todas as experiências do cotidiano, e neste ponto não devemos confundi-lo. Algumas experiências do horror podem acontecer no meio do caminho, por isto devemos estar preparados. Heidegger por exemplo “olhou para o abismo da filosofia e viu as bestas do nazismo—se tornou de fato um nazista” (Adler). São necessárias muitas ultrapassagens, muitas escalas e esferas precisam ser passadas, inclusive a que concebe um intenso horror.

Muitas perguntas se fazem sobre o niilismo, uma já respondida, não é corrente de pensamento, foi de inicio, como queriam os russos, achavam que iam revolucionar o mundo através do niilismo, ao negarem o mundo, ele ia se transformar. Pura convicção de literatos políticos obstinados. O mundo aparentemente não se transforma, só se reconfigura, passou da metafísica humanizante como processo de domesticação do homem à técnica desumanizante. Nada neste meio tempo se transforma apenas se torna utilitarista, determinada em aplacar as nossas bestialidades. Mas nossos instintos são mais ferozes e perpassam qualquer tentativa de coerção.

Somos niilistas e somos doentes sim, Nietzsche faz um diagnóstico desta época do apogeu dos doentes, dos niilistas, porque em um mundo que falta a significação ficamos doentes, estávamos mesmo condicionados a ter significado no mundo, como animais, éramos destituídos disto, a bestialidade independia de significados, mas, domesticados precisamos dar razão a algo, o racionalismo socrático e sua infantilidade.

“unheimlichste aller Gäiste”, o mais estranho dos hóspedes—o niilismo, esta raiz funesta que impera no interior dos homens, salta aos olhos, como um vulcão adormecido, deixando o mundo em chamas, tornando-o obsoleto. Zaratustra dizia: O convalescente, na interpretação do alemão significa aquele sem lar, assim são os niilistas, raízes funestas sem lar que atravessam a longa noite. São como feras enjauladas, que sem temor cruzam a noite em agonia, a gritar no anseio pelo distante, pela liberdade. Monstros de forma bestial, liberados pela aurora infernal. Estamos subjugados e tolhidos pelas tentativas burlescas de domesticação grotesca de nós mesmos, somos o fundo sem fundo, sem originalidade, a tentativa inútil de uma glória nadificante, mais o niilismo e seu estranhamento desentranha-se cada vez mais.

Williane Oliveira.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Eu acho que ficamos todos loucos


Eu acho que ficamos todos loucos, inclusive eu de achar que algo de fantástico iria acontecer. Existem certos vazios que provavelmente nunca vão passar do desconhecimento das mínimas coisas, dessa amarga angústia de nada ter ou participar. Já dizia a música do poeta Bob Dylan, “how does it fell? to be on your own, with no direction home, a complete unknown, just like a rolling stone…” As vezes me rio de meus malogros, minhas vicissitudes, meus tropeços e nenhum acerto. E nem mesmo que eu tente fazer tudo o que se considere socialmente eu não dou certo em nenhuma das minhas tentativas, talvez seja porque eu nem devesse tentar. Escrever então, quanto a isso nem se fala, sobre angústia, depressão, falta de sorte, tudo isso aí outros já falaram e de maneira brilhante, de Álvares Azevedo a Ferdinand Celine, tudo já foi extensamente dito e explicado, entretanto a vontade insana de vomitar estas incertezas corrói o meu estômago.

Como eu disse em outro local, neste mundo instituído de regras até mesmo o ato puro de escrever fica vedado a este parâmetro de aceitação e compreensão, nossos juizes letrados nos acusam pela falta de clareza, ora, ora, este aí nem mesmo sabe aplicar as boas regras do português, que lastima! E ainda quer ser escritor, pobre ser, devia mesmo era ser S.G.

Mas em meio a esta sujeira toda descobri que neste mundinho de pseudo letrados e acadêmicos não se sente emoção, é somente, pôr pontos, acentos e regras de concordância. A idéia pura de emoção ao ler algo não existe, acho que por isso que veneram tanto Kant, quer leitura mais chata??? Ou Heidegger, porque ninguém entende mesmo o que ele escreve, ai fica mais fácil de citá-los nas conversas e naqueles discursos patéticos de congressos vazios que só vão para beber e aproveitar mais uma situação jocosa para afirmar os seus pseudo conhecimentos.

Vejamos o caso de Bob Dylan para uma análise de nossa época, é hoje um dos grandes poetas americanos, mas precisou ele cantar e tocar aquele violão sem graça para ser ouvido, pois imagina se as pessoas querem perder seu tempo lendo poesias ou algo do gênero, afinal de contas existe MSN ou TV a cabo. E você ai indignado com as minhas afirmações deve estar se perguntando, - A partir de que dados vem alguém para afirmar que eu não possuo conhecimento ou entendimento das coisas, ainda mais alguém que não representa nada na sociedade, uma assalariada? Uma estudante de coisa alguma? É porque andei pesquisando e meu amigo google afirmou que ela estuda algo que não tem sentido algum, o próprio sem sentido do mundo, um tal de niilismo, e ainda se acha arrogante o suficiente para me questionar, deveria mais era ser S.G.

Vejam bem meus caros é uma desgraça profunda esta necessidade de escrever, porque de nada ela serve, a não ser a de aplacar estas loucas vozes interiores que insistem em se fazer ouvidas, e olha é um blah, blah, blah interior pior que os das madames que enchem os salões de beleza para trocarem as perucas louras. Eu nem mesmo às vezes consigo ouvir as coisas aqui fora com este barulho nauseante interior, e no final das contas, isolada do mundo por estas vozes, encontro consolo nas palavras, um tanto amargas, mas sem pretensão de serem ouvidas. E de uma coisa eu não tenho dúvida, todas as minhas vozes são frutos de um certo descontrole emocional, de não encontrar lugar no mundo, ao menos é a minha desculpa para tudo isso que estou escrevendo, até porque uma delas me diz: Que diferença faz para você encontrar lugar no mundo? Você já viu que isto tudo que você está buscando não tem sentido algum, sua niilista de merda. E ai rio de tudo e continuo na pasmaceira de antes, desta verborragia infinita no black and white.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Adormecida


Já não são mais insondáveis os mistérios infinitos do universo,

E já não faz sentido nenhum as atmosferas insólitas do desconhecido

O blasé dos seus olhos se dissolve nas circunstâncias dos paraísos artificiais,

No amargo do haxixe, no insosso das nuvens brancas, no êxtase da dor.

Nas sepulturas levantastes as dores do mundo, as penitências, as raízes funestas...

Mas perdeste o rumo da imensidão, das marés nauseantes inscritas em teu mundo alheio, onde feras enjauladas pedem perdão ao algoz, mas os gritos tremeluzentes não são ouvidos, no mundo selvagem não há consolo para as suas perdas.

Então me deixe em meus anseios, em minha loucura abstrata e surreal.

Deixe que as marés angustiosas da minha mente se dissipem no profundo dos teus olhos, no púrpuro trackliano, no denso das sombras que em mim vive.

Deixe que a suspeita amarga corroa meu cérebro e perpetue o veneno hostil de suas palavras, de sua boca, de sua odiosa face.

Voltem para casa sonhos e pesadelos, voltem para o doce do terror,

As serpentes esperam a adormecida senhora em seu ocaso, onde tudo é fascínio,

Onde tudo se dissolve em brandas nuvens, sobre o espelho corrosivo da masmorra,

Sobre suas facetas e desígnios, sobre as tempestades alentadoras do caos que vive em mim.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Aforismos para a Sabedoria da Vida


“Distancia e longa ausência prejudicam qualquer amizade, por mais triste que seja admiti-lo. As pessoas que não vemos, mesmo os amigos mais queridos, aos poucos se evaporam no decurso do tempo ate o estado de noções abstratas, e o nosso interesse por eles torna-se cada vez mais racional, de tradição. Por outro lado, conservamos interesse vivo e profundo por aqueles que temos diante dos olhos, nem que sejam apenas os animais de estimação. Tão vinculada aos sentidos e a natureza humana. Por isso, aqui também são sabias as palavras de Goethe: ‘ O tempo presente ´´e um Deus poderoso."

Arthur Shopenhauer

sábado, 19 de janeiro de 2008

NIILISMO: REVOLTA METAFÍSICA OU REVOLUÇÃO?




Em Nietzsche, Deus é submetido ao juízo moral, e daí surge a pergunta: Negou-se Deus por justiça, mas a justiça pode ser pensada sem Deus? Este é o absurdo em Nietzsche, e a partir desta premissa ele começa o projeto de desconstruir a moral, para destruir a idéia de Deus. O seu projeto envolve o homem ocidental, pois é nesta cultura que se construiu a idéia de moral.

O niilismo em Nietzsche assume ares proféticos, entretanto é o homem clínico que pormenoriza o niilismo. Faz um diagnóstico de sua época, para ele o niilismo tomará a forma de um apocalipse, sendo então que ele faz uma análise, um diagnóstico e uma previsão de sua época sob a égide do niilismo e as conseqüências políticas deste acontecimento para as épocas futuras. Diagnóstico: “incapacidade de acreditar e o desaparecimento do fundamento primitivo de toda fé, ou seja, a crença na vida.” (CAMUS, p.86, 1999).

A pergunta em Nietzsche afasta a revolta pela pergunta se é possível viver sem acreditar em nada? A resposta para ele é afirmativa, sim é possível desde que se ausente de toda a fé, e que o niilismo vá até as últimas conseqüências e que atravessando o deserto (lê-se Zaratustra) aprenda a reconquistar-se e a viver no trágico da vida. Os dois aspectos pertinentes a esta afirmação estão baseados na negação metafísica e na destruição de valores. Estas seriam as armas de fogo postas por Nietzsche para destituir o sistema moral e conseqüentemente para destronar o Deus da cristandade. Sendo assim, nega-se a existência do divino e anula-se a idéia de unidade e finalidade, desse modo o mundo não pode entrar em julgamento, pois os juízos de valor foram presumidos pela existência de Deus, sem ele exime-se de toda culpa o todo existente. E assim, afirma-se o assassinato. Mas sobre isso falaremos mais tarde.

O niilismo é a incapacidade de acreditar, a filosofia de Nietzsche começa exatamente como uma revolta por esta incapacidade que se converte na frase “Deus está Morto”. Começa a se construir uma filosofia em cima da revolta, desde a compreensão lógica do niilismo como possível acontecimento. “Nietzsche não meditou o projeto de matar Deus. Ele o encontrou na alma de seu tempo” (CAMUS, p. 89, 1999). O Deus acaba por se decompor naturalmente, a idéia de que o homem entra em decadência é como se a partir do momento em que foi criada tivesse um tempo determinado para acabar. Isto porque a amarração de sua idéia operava desta forma. A morte de Deus trata-se de um rompimento com a tradição. Sem Deus é preciso aceitar o mundo tal como ele é, aceitar a fatalidade como preço da renúncia.

Nietzsche volta aos pré-socráticos e a idéia de eternidade, negar Deus e aceitar a divindade do mundo, participar da divindade e o mundo será assim de homens-deuses, assim será o superhomem.

Este niilismo insistente se move contra a condição humana e o seu criador, no niilismo o homem nega o criador e passa a ser o criador dos domínios humanos. Assim, a insurreição humana é um protesto contra a morte, o homem se recusa veemente em aceitar a morte. Ele se recusa em aceitar a morte e, no entanto aceita a essência do mundo tal como ele é sem um Deus para salvar. Rejeitando o salvacionismo ele se ausenta de toda culpabilidade moral que provoca a incerteza das convicções. As conseqüências deste niilismo são atrozes à condição humana, mas, no entanto dão clareza e liberdade de intenção.

O século XIX será o século da revolta, enquanto o século XX o século da justiça e da moral, como o homem se insurge contra a figura divina e passa a ser responsável pelas suas próprias ações, assim constrói uma dinâmica para o assassinato em massa sem precedentes na história. O homem sem Deus justifica o assassinato através da razão. É nesse ambiente histórico que se constrói um niilismo avesso ao de Nietzsche, que é o niilismo moral na vontade de poder. Nietzsche acaba por escrever coisas que promovem o assassinato, porém sugere Camus ser involuntário, o que parece um excesso de inocência de sua parte, não que Nietzsche estivesse investindo numa postura de promover o assassinato, mas teria uma terrível consciência de que numa era sem Deus, o homem destituído de toda culpa teria liberdade em matar o outro, ou seja, com a ausência da moral o homem se ausenta da culpabilidade moral e aí pode racionalmente justificar os seus atos como senhor dos seus domínios. O maior exemplo disso se tornou a ascensão do nacional socialismo na Alemanha de Hitler. Esta ascensão promove para eles a justificação do assassinato em massa dos judeus, dentro de uma construção filosófica do poder incondicionado da vontade de poder.

O que seria a vontade de poder? Para fazer uma caracterização prévia usaremos as interpretações que se faz dela por Müller-Lauter. A vontade de poder não é um querer qualquer, o querer algo é poder (um querer essencial) que se converte em vontade de poder. Como a vontade de poder sempre almeja mais poder, ela se converte em dominação, na medida em que: “alongamento de poder se perfaz em processos de dominação”. (MÜLLER-LAUTER, pág. 54, 1997). Deste modo, o querer-poder (macht-wollen) é afeto de comando e execução. Toda a aspiração de querer algo é vontade de poder e aspira a dominação, ao querer sempre mais. Sendo então, que a vontade de poder se faz em escalas de dominação, na ascensão e afeto do poder. É a revolta armada da modernidade, a tentativa de abarcar a totalidade do mundo que se cobre de justificações teóricas para cometer seus crimes. Ao citar Nietzsche, Müller-Lauter consegue identificar essas inclinações do domínio “Mais inequivocamente ela se deixa mostrar em todo vivente... que tudo faz não para se conservar, mas para se tornar mais.” (fragmentos póstumos de Nietzsche citados por Lauter). É neste arcabouço teórico que a ditadura nacional socialista mostra a sua face, na vontade de poder, o homem, ao contrário das leituras tradicionais que fazem, não quer se conservar, o homem quer ser sempre mais, e para ser sempre mais ele precisa se impor ao outro através do assassinato. Entretanto, dentro desta visão apontada do niilismo por Lauter esse mais no interior da vontade de poder traz conseqüências funestas, conseqüências estas travadas a ferro e a fogo na história das revoltas humanas. Pois, a vontade de poder se auto-destrói na vontade da vontade, esse poderio incondicionado da vontade de poder, do querer sempre mais, do homem jungeriano automatizado para a guerra, que se arma e se constrói para a guerra é destruído dentro de seu próprio ideal. Os assassinos que se construiu dentro do império hitlerista e a sua teoria, se auto destruíram no percurso da história e as suas pretensões históricas de domínio da totalidade, marcam a sua derrota. Os soldados hitleristas, robôs automatizados, cometem suicídio, pois só no fim descobrem que seus ideais já profetizavam a sua derrota.

Segundo Camus, quando no romance de Dostoievski se dá a morte de Deus, aí começa a tragédia do homem contemporâneo, o que a muito queria se insinuar fica claro ao mundo. Começa-se a partilhar da idéia comum de que não há mais lugar para figura divina, é preciso quebrar o espelho das convicções e no caso esta é a maior delas. Mas dentro de um mundo ensombrecido pelo niilismo não é esta revolta particular que o insere, ele começa dentro de inúmeras revoltas que conhecemos, seja o iluminismo, o surrealismo, a poesia erótica e maldita, são todas as formas de insurreição que acabam por descambar no niilismo. E agora chego à pergunta, o niilismo será uma revolta metafísica como foram esses outros movimentos ou uma revolução que ainda demora em acontecer plenamente no coração dos homens? Para Camus, a revolta circunscreve um pequeno movimento no interior da sociedade, onde grupos se rebelam sobre o pensamento aceito e passam a discordar dele, enquanto que revolução teoricamente conserva o sentido que tinha em astronomia. “É um movimento que descreve um círculo completo, que passa de um governo para outro após uma translação completa”. (CAMUS, pág. 132, 1999). Neste sentido a compreensão de revolução se estende para outros domínios, e essa diferença essencial se dá porque no seio da revolta ela atesta mais um ponto de vista contra um sistema imposto, ela é apenas um protesto e não tem compromisso com uma mudança de fato, enquanto a revolução começa a partir da idéia, uma idéia que precisa de tempo para ser maturada e não necessariamente vai acontecer prontamente, ela acontece na experiência histórica, segundo Camus. E por isto pensa-se que uma revolução para acontecer ela precisaria ser única e ainda não ocorrida de fato se analisarmos estas prerrogativas.

Para analisar esta idéia surge uma outra pergunta em seu interior, poderia ser o niilismo uma revolução que está para acontecer ao homem? Que aparece como um movimento de pensamento mais claro a partir do século XX com Dostoievski, Nietzsche, mas que analisado por Heidegger se insurge no interior da história desde o platonismo e neste sentido é intrínseco a ele, e mais, que em Heidegger e Jünger se torna um deserto a ser atravessado. Esta seria a revolução que se anuncia para estes pensadores profetas? A de que a revolução será a travessia do deserto? O obscuro do niilismo é não saber de fato ao que ele se propõe, ao longo dos séculos passou de pessimismo decadente, niilismo ativo de ultrapassagem, a uma tentativa de cruzar barreiras em se pensar o homem, aquele homem equilibrista em que Nietzsche visualizava estendido em uma corda entre abismos.