segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Corpo operante


Entrelaçado de visão e de movimento,
Deslocamento de minha paisagem,
Minha clarividência onipresente.

Olhar como anteparo do visível,
Olhar como reflexo do invisível,
Prolongo meu corpo sobre o mundo,
Capto as inscontâncias do olhar do meio,
Da singularidade do meu corpo que cai.

E o meu olhar é inesgotável,
De reflexos infinitos; os outros indissociados.
O mundo se abre nas folhagens.
Quero ser árvore como Silvia,
Com raízes no solo, crescer até o céu,
Repousar sobre as nuvens, espionar a lua.
Findar as inconstâncias do mundo,
Eternizar meu olhar indissoluto e puro.

Quero pintar o invisível nas entrelinhas,
Um espírito de Malebranche; passeador onírico.
Concentrar o universo em tuas cores,
Habitar na fascinação descontinuada da circularidade,
Desenhar constelações infindas de teu corpo,
Ser traspassado pela pungência corrosiva,
E continuamente renascer em versos, estrofes, poesias.

domingo, 7 de setembro de 2008

Todas as Crianças são Insanas



Todas as crianças são insanas, como nós,
Insanos em nossas dores, ironias, odores.
Porque o mundo se cala quando o medo se instaura,
Porque tua pele resplandece a aurora infinda das marés,
Na agudeza torpe de teu semblante.

A frieza depressiva das florestas,
A tragédia absurda das visões noturnais,
São admoestações ancoradas no seio viscoso da terra,
Pedaços de memórias tristes ancestrais.

Parte do meu espírito esqueceu de mim,
A outra parte lembrou de você.
O receio do esquecimento de mim partiu,
Mas o martírio oculto do velamento, enraizou-se em nosso mundo.

Profundo são os ventos que nos tocam,
Como as marés nas rochas, a vibração das ondas,
A oscilação profunda dos sonos angustiantes,
A entrada repentina na cabana,
O sono onipotente, amargo,
Pesadelos confusos oriundos dos cogumelos

As criações são engenhos malignos de máquinas hostis a poesia,
As imagens refletidas são pulsações energéticas,
Das ervas daninhas petrificadas,
Do solo vigoroso, das raízes ocultas,
Do mundo ominoso.

Não há nada aqui de novo,
Só o alto da janela, os pombos, a visão do mar.
O tédio flutuante, o vento sibilante, o meu mundo inconstante.

Os sinos tocam e oculta o grito da criança,
A mimética das formas, das canções infernais,
Das almas dos malditos a me incomodar.
E todas as crianças são insanas,
E o universo grita as suas perdas.

Williane Oliveira.



terça-feira, 2 de setembro de 2008

Eu estava morta


Ponha a si mesmo em uma caixa, pois a realidade desfoca tudo,
Deixe as vozes perturbadoras gritarem sozinhas, pois a anarquia não é suficiente.
A sua dose de realidade diária tome com gim Tônica.
A sua carcaça podre lave com criolina, e não deixe que os fétidos ratos durmam nela.
Desça o mais baixo que você puder para sentir as falsas glórias de tua escória,
Pois só assim você se sentirá melhor em tua fanfarronice, sua sórdida miséria.


O veneno insípido de suas palavras, o odor fétido das tuas vozes,
Em algum lugar distante da realidade são dissonâncias malignas de teu rastro.
As línguas queimam as estruturas semânticas, a ordem da razão, da esperança.
Os mundos colidem em redundância na desventura, nas circunstâncias.


No mar aberto, no abismo reluzente, existe um espaço ardente,
Do desconforto das sentenças morais, da morada insana,
No mais íntimo da liberdade humana.
O inverso dos pseudo-sentimentos, um feminino sombrio!
Encoberto por eras de monstros malignos, pervertidos em chamas.
E eu estava morta em minha incompletude, em meu descaso,
No discurso ambíguo das confissões e dos ocasos.
W.O.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O espelho das confissões


Sobre o espelho eu tento resistir aos meus desejos,
Mas eu não sei quem eu pretendo ser, ou quem eu confesso...
E nenhuma razão destoa da insensatez em mim.
Emocionalmente incompleta, resisto aos meus pensamentos,
Divido o mundo em dois, erros e confissões.
E o meu desejo se confessa ao espelho,
Sussurra o que eu me tornei, e eu não posso negar...
Quando eu tento encontrar um caminho,
Não resisto aos meus pensamentos, meus desejos...
Não resisto ao gosto do nada,
Do oscilante das marés nauseantes,
Dos sonos angustiantes...
O espelho confessa a razão do silêncio,
Da fada suicida, da lilith arguta, assumida...
Das pretensões filosóficas, do irônico da minha tristeza...
E eu não sei quem eu pretendo ser, ou quem confesso...
E nem do meu desejo posso provar, nem de mim eu sei.
Não há razão para saber, não sei quem eu quero ser, quem eu deveria...
O espelho me confessa a angústia sufocante, o veneno hostil, as águas profundas,
Sussurra o que eu me tornei, e eu não posso negar...
A ponte suspensa no nada, o desequilíbrio constante,
Um ponto vago no firmamento, o reflexo de corisco.
Mas as palavras são promessas imaturas de meus erros e isto eu confesso...
Olhando o espelho das confissões de mim mesma os meus desejos prevalecem
Na angústia constante das sombras do que eu me tornei, e isto eu confesso...
W.O.

A razão do silêncio




Minha insensatez é a razão do silêncio absoluto que reina nas paragens
Meu riso é dissociado dos meus sentimentos mais profundos,
Sou alheia a quase tudo que finjo sentir, sou o esforço incompreendido em mentir.
Do milharal guardei as dores nefastas do mundo, os demônios atrozes,
Do meu grito silencioso o universo estéril chorou,
Por uma criança que em lamentos extirpou o próprio coração.
Um coração ardente em chamas, extinto em vida.