segunda-feira, 20 de julho de 2009

Acabou


Acabou, A única coisa que podemos dizer do futuro é que ele virá, Não temos fissuras no tempo para se esconder, nem mesmo este instante. Acabou, a voz do demônio não chegou a tempo das circunstâncias, Não possuímos o domínio das veleidades femininas, não como queriam os deuses, Não como supõem os astros, não como desejavam os homens. A duplicidade dos afetos são corrupções burlescas, O fruto proibido das paixões se tornou resíduo amargo das convenções. O repouso dos mortos é estarem mortos, para os vivos resta a angústia, O desconsolo, um universo inteiro aberto à lamentação. Acabou, até as pedras choram a sua falta, Até as musas dançam sobre seu cadáver, sua rigidez... Deixe que o mundo adormeça o onírico, o poético de ti. Para o teu caixão levarei dúzias de rosas dançantes, Plúmbeas esvoaçantes, de raízes venenosas, corrosivas, Esforços melindrosos de elfas shakespeareanas. Acabou, eu sinto que te tramei no interior da minha mente. Forjei segredos abstratos de mundos imaginários, Busquei em ti filosofias infundadas, parti o mundo em dois, E planejei a minha fuga na alvorada. Sadie Frost oder W.O.

2 comentários:

Undenied disse...

"Forjei segredos abstratos de mundos imaginários, Busquei em ti filosofias infundadas, parti o mundo em dois, E planejei a minha fuga na alvorada".

Ainda era Janeiro e eu tinha tanto para te dizer, como se Janeiro fosse todo o ano, e todo o ano fosse a vida inteira. E eu queria dizer-te a vida naquele mês de Janeiro, que ainda é hoje, sabes?...
Mas não mais aquele Janeiro. Os Janeiros da minha vida não os recordo, relembro-me apenas daquele Janeiro em que minhas florestas foram incendiadas e essa ferida que alimenta minha destruição foi aberta pelo teu silêncio. Todos os outros desconheço-os, tendo-os vivido, sem os ver.
Ainda é Janeiro.
Amanhã começa outro mês e eu marco no calendário os dias da tua falta, não porque queira ferir-me, ou talvez o seja, mas porque a dor e o vazio continuam e eu não queria que os meses os levassem nem queria que eu fosse com eles. Que tua aurora volte a aquecer essas paragens arrefecidas pelo esquecimento, apenas. Nada mais. Quase seria simples, se não fosse tão complicado.

Sustém a respiração um pouco.
Ouves? Ainda não?

São os dias a arrastarem-se mais pesados que os céus por este cômodo empoeirado. São os dias a decorrerem contra a minha vontade. E passam e passam e passam. Os dias [malditos sejam!] sempre passam. E tudo permanece igual. Nada se altera porque sonhos e amores foram crucificados no deserto. Nada se altera porque teu cheiro mudou de cor. E, no entanto, a respiração jamais voltará a ser a mesma.

- Os dias a baterem nos dias que bateram nos dias que já haviam sido batidos.
- Tem fim?
- Não sei, fica esta noite e talvez o encontremos, nem que seja por distração ou erro. Mas fica comigo esta noite e traz de volta os aromas que roubaste dos meus outonos transfigurados.

Porque ainda era Janeiro.

01:42
31 de janeiro de 2009

Undenied disse...

"Acabou, eu sinto que te tramei no interior da minha mente.Forjei segredos abstratos de mundos imaginários, Busquei em ti filosofias infundadas, parti o mundo em dois, E planejei a minha fuga na alvorada".

Ainda era Janeiro e eu tinha tanto para te dizer, como se Janeiro fosse todo o ano, e todo o ano fosse a vida inteira. E eu queria dizer-te a vida naquele mês de Janeiro, que ainda é hoje, sabes?...
Mas não mais aquele Janeiro. Os Janeiros da minha vida não os recordo, relembro-me apenas daquele Janeiro em que minhas florestas foram incendiadas e essa ferida que alimenta minha destruição foi aberta pelo teu silêncio. Todos os outros desconheço-os, tendo-os vivido, sem os ver.
Ainda é Janeiro.
Amanhã começa outro mês e eu marco no calendário os dias da tua falta, não porque queira ferir-me, ou talvez o seja, mas porque a dor e o vazio continuam e eu não queria que os meses os levassem nem queria que eu fosse com eles. Que tua aurora volte a aquecer essas paragens arrefecidas pelo esquecimento, apenas. Nada mais. Quase seria simples, se não fosse tão complicado.

Sustém a respiração um pouco.
Ouves? Ainda não?

São os dias a arrastarem-se mais pesados que os céus por este cômodo empoeirado. São os dias que insistem em decorrer contra a minha vontade. E passam e passam e passam. Os dias [malditos sejam!] sempre passam. E tudo permanece igual. Nada se altera porque sonhos e amores foram crucificados no deserto. Nada se altera porque teu cheiro mudou de cor. E, no entanto, a respiração jamais voltará a ser a mesma.

- Os dias a baterem nos dias que bateram nos dias que já haviam sido batidos.
- Tem fim?
- Não sei, fica esta noite e talvez o encontremos, nem que seja por distração ou erro. Mas fica comigo esta noite e traz de volta os aromas que roubaste dos meus outonos transfigurados.

Porque ainda era Janeiro.

01:42
31 de janeiro de 2009