domingo, 16 de novembro de 2008

Indissociação do olhar


Quase sempre te observo em mim, na forma indissociada do meu olhar, na perenidade dos sentimentos metamorfoseados das distâncias que nos circundam, como um dia de chuva, gotas que caem incessantemente, perfazem seu caminho através do céu, toca as extremidades, percorrem as cores do mundo, os dois céus. Um céu que escuta e um céu que devora. Será que hoje o que vejo são apenas as sombras do nosso passado? O seu olhar se dissipou nas nuvens angustiantes que em ti pairavam?
Por ora, o que sei de mim, é que a minha única companheira tem sido a solidão de outrora, e foi tudo que restou da minha infância roubada, e hoje é tudo que me lembro... Sua frieza gelou meu coração, me fez lembrar que eu forjei meu coração no aço e na dor, que eu violento todos os meus sentimentos para permanecer viva, que eu estou condenada a estar eternamente dividada, entre viver em morte e não poder morrer em vida, ou de vida. E ter a triste certeza que não existe um porto para me ancorar, um dia de sol depois da tempestade, e a paz do entardecer faz ter o pior sentimento possível a um ser. Piedade de sí mesmo.
E o reconhecimento do meu fracasso perante a vida é ainda mais desolador. Não tenho a quem culpar, nem mesmo a mim, pois o mundo é só o que é mesmo, acaso, acaso e acaso. Você era a última conexão com o meu passado, onde eu ainda podia sonhar um pouco. Ponho uma pedra em ti, findo inevitavelmente com quem achei que era. Eu dou apenas um suspiro para a minha dor, porque cair é sempre a conseqüência última de cada ato que enceno. Eu concebo cada coisa que sinto como um ato sagrado, talvez por esta razão, tudo é tão determinado em minha vida, tão dramático e maculado.
Agora sou apenas um fantasma do meu próprio passado, uma sombra que adormece nos campos de Avalon com suas crenças maravilhadas de um mundo mais feminino e que agora jaz como feminino sombrio. O mundo não tem mais lugar para Deus, ou deuses, só restam as solenidades apáticas de seres distanciados e medíocres, não tente buscar filosofias cegas e vãs em terreno infértil, pois isto só será fonte de mais sofrimento, mas dizer não é suficiente, gritar pelos arredores do mundo também não vai influenciar as suas decisões, pois, a tua busca cega continua em meio às ruínas de teu coração frio e insensato. O que há de pitonisa em mim insiste em avisar a humanidade à desdita da vida, mas o que há de sacerdote em ti prevalece nas mentiras forjadas em teu coração corrompido e cego. Emudecerei as tuas meias verdades e gritarei em silêncio, de horror ante as doenças infringidas em ser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Dark love, muito lindo, eu adorei.