quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Fuga


Um céu sem limites, quase um abismo, tão luminoso,
Abençoado pelos deuses, tão sereno-transfigurado.
Um poço de brandura, uma profusão de cores e o olhar mais puro,
Mergulho no translúcido e infinito.

Aí é sempre verão aqui apenas cai a temperatura.
Sinto o ar das montanhas, sobrevôo tempestades em fuga,
É como caçar no inverno, como esconder o céu das estrelas
E o meu coração em chamas como o labirinto do desejo queimando,
Nesta ausência tão absoluta e predominante.

Conectada e desprotegida consigo ser verdadeira apesar de esconder o que tento provar,
E não é somente linha de fuga é instância definitiva, resgate absoluto do devaneio.
Debruçada sobre o abismo encontro resistência e conflito,
Transpiro e fulguro a intensidade passional das instâncias indefinidas,
Puro conflito e drama do que não posso tocar, nem encontrar um caminho.

Como eu posso sentir neste momento esta luz da manhã tão clara, tão serena?
Olhe atrás dos muros e se pergunte sobre a solidez das coisas e dos objetos e
Sinta como se fosse a única certeza, o único momento...

Tensão, paixão, resistência e conflito, um deixar-se ser a la Blanchot,
Extenuando todas as reações transfiguradas em pulsões, puro encantamento.
Violento todo o êxtase que estou perdendo e sem crença eu não posso voltar,
Prescindo do desejo de realização, dominar tudo aquilo que no interior domina,
Os desejos, as instâncias primitivas, as potências e as projeções.

Mas corra, corra! Fuja, fuja o quanto antes, eu quebrei alguns muros,
Transponho barreiras, caio no abismo, indissoluta, arguta, astuta!
Caio na minha certeza imperativa de sacudir e desenraizar, estimular e analisar,
E não quero ir além, quero todo o além, todas as estrelas e a tempestade de cristal,
Mas o demônio que há em mim é amigo das estrelas, é a própria imensidão,
E neste frio que me ronda subitamente vêm a manhã mais clara
E me toca com o seu sereno transfigurado,
Tão quente e luminoso a incendiar o labirinto do desejo,
E eu bebo todas as cores, o infinito inteiro...

Se mantenha em pé se puder, todas as arestas serão penetradas
Pela força da tempestade, das marés inconstantes e da violência do vôo
E todo o seu ser será transmutado.
E uma vez mais eu estive perdida e cega, mas agora eu vejo
Em minha compreensão nebulosa, poética, sensibilizada
Que todo o universo transmuta em sonho, o delírio, o êxtase, a explosão das estrelas.

W.O.

2 comentários:

H. Feldhues disse...

Deixar-se ser infinito certamente exige a vigilância perpétua contra a calmaria indolente. Mas quem aprende a contemplar a beleza da imensidão já não pode voltar em seus passos, tudo é porvir.

Anônimo disse...

Esse poema é simplesmente brilhante.
Estou para ler algo mais intenso do que isso. Puro estrondo da tempestade!