sábado, 10 de julho de 2010

O abismo, o silêncio e o Impossível


Pensamento Possível do Impossível

*

O que significa envelhecer? A mutilação dos nossos sonhos, apagarem o fogo da humanidade, extirpar o nosso desejo, esquecer ou brutalizar o nosso infante? O instinto que havia potencializado a vida foi decomposto nas árvores podres da razão. A semiótica das pulsões renegada e posta em porões do isolamento. Nós, os espectadores e vilões desta carnificina, assistimos mudos a fanfarronice teatral onde todos os egos inflamados já instituíram um mundo cheio de ironias e representações. E antes de tudo, quem fala? É o mundo que grita ou o artífice que tudo classifica? Contra a vontade endureço minhas emoções, plastifico sentimentos e instauro o arrazoamento das entificações. Contudo, a desconexão da angústia da floresta me revela onde habito, sobre a incompletude do nada que me toca. Desse tão junto do mundo que só afasta e revela inadequações. O convite a minha deformidade pode ser o prelúdio da queda. Não escrevo poesias tampouco inscrevo filosofias, escrevo confissões, relatos de minhas experiências malfadadas e malogradas ao acaso que revelam formas disformes, indecisões e contradições ao acaso. Não pretendo engrandecer ou validar diplomas de atenção, mas prescindo em divergir e escarnecer os formatos ultrapassados de entendimento. Estranho e solitário, mas mudo não, pois, mesmo em silêncio as ideias persistem em agonia e conflito. Mais estranho que a bondade é o mapa do desejo queimando em sua carne, e prelúdio do amor. E isto não esgota, se transmuta, apenas varia de sensibilidade como gozo da própria ideia, quase um dinamismo da ação. Uma “super-ação ” que é a ultrapassagem da própria ação. Os amigos falam de poesia ação, mas tudo o mais das potências da vida podem ser “super-ação” e assim, se revela a inteligência da obra homem, ter um gesto que se transmuta e sonha. A ideia ficcional de eus que ao serem personagens são reais sonhados é mais válida que o próprio real. Com isto, Unamuno sai germinando a ideia de um Deus sonhador, Deus sonhando você, a mim, a todos. Mas a “super- ação” das potências da vida são para além disso, os personagens reais sonhados são parte do mundo imaginário da obra homem que se transmutam em Deuses sonhadores. Como uma pintura que obedece ao apelo da obra homem, pintamos os personagens reais sonhados em nosso Ser e essa espontaneidade criadora determina todo o processo imaginário da humanidade. Em contrapartida, toda a nossa inteira cultura persiste em afirmar o processo imaginário como parte lúdica de nossas vivências, e não o real mesmo. E assim, a nossa “pintura-imaginativa” numa tradução, a nossa pintura que sonha as ideias que realizam a obra homem, permanece como estranhamento ou pensamento do impossível.


Nenhum comentário: