domingo, 31 de agosto de 2008

Cavalos Selvagens



Os sonhos? São tantos...E todos esquecidos,
E enterrados em caixas de abelhas,
Velados como doces ilusões de mundos transparentes, opacos...
E você fecha a porta, tranca as minhas decisões.
Cavalos selvagens cavalgam ao luar na noite cinzenta,
E a vida se torna um flagelo.

Atravesso mil oceanos, tempestades e neblinas,
Escureço o mundo com minhas incertezas,
Meus demônios são fragmentos da minha morte.
Minhas cicatrizes são como libélulas,
Sou o fruto proibido de auroras doentias,
Como forças grotescas no interior da perversidade.

As minhas fantasias são sinfonias solitárias,
O meu deleite são os meus segredos, minha caixa de pandora.
Meu veneno doce causa uma morte reluzente,
Minhas idiossincrasias são rios temporários,
E a vida se torna um flagelo.

Cruzo rios secos, sertões em guerra para entreter minha alma de você,
Abro portões para as bestas selvagens dos mundos adormecidos,
Divago nas emoções que sinto, mas os cavalos selvagens cavalgam ao luar,
E lá fora o tempo passa sem cessar,
E a vida se torna um flagelo.

Dou continuidade aos sonhos, a anarquia do mundo,
A revolta armada absoluta da dissociação do humano.
As sombras descontínuas do semblante imaginário.
E a vida se torna um flagelo.

As Flores Doentias




A figura de um poeta é retratada nos traços de sua poesia, que desvela a sua alma através da linguagem, deixando ao mundo a reflexão de uma alma, que viveu em constante investigação acerca da compreensão do homem. Dessa forma foi o homem Baudelaire, como queiram dizer:
“O grande arquétipo do poeta à época moderna e de todos os tempos”. P.E.
É o interrogador da alma, da psique humana, que mergulhando fundo nos abismos infinitos da mente, consegue transportar para sua poesia uma crítica visão sobre o homem no mundo, denotando um pessimismo radical, de onde emergirá, porém, uma fonte de energia e fecundidade, do que há de verdadeiramente humano.
A sua poesia revela um grande senso plástico e visual, onde faz quase sempre uma relação dos objetos e formas materiais com os aspectos do comportamento e da mente humana.Descobrir a arte nos anseios e vícios humanos revolucionou toda a literatura posterior.
Não se deve falar em mudança de paradigma, ou quebra de conceitos e sim de um homem que começa a precipitar-se no abismo de sua alma, entorpecido pelo tédio fatigante do homem parisiense que se ilude com as volúpias e diversões do seu século.
O eterno conflito dilemático sobre a carne e o espírito, entre ascensão e queda, perpassam a obra baudeleriana, refletindo ao que veio a ser chamado de “antevisão estética”. Essa antevisão estética é marcada pela influência da literatura gótica no romantismo francês, descrito como o “satanismo baudeleriano”.
“Sempre me obcecou a impossibilidade de compreender certas ações ou pensamentos súbitos do homem sem cogitar da hipótese da intervenção de uma força perversa e que é alheia”. C.B.
Dessa relação conflituosa, o satanismo baudeleriano aparece como a identificação com natureza própria do homem.
Ó tu, o Anjo mais belo e também o mais culto,
Deus que a sorte traiu e privou do seu culto,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Ó Príncipe do exílio a quem alguém fez mal,
E que, vencido, sempre te ergues mais brutal,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que vês tudo, ó rei das coisas subterrâneas,
Charlatão familiar das humanas insânias,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, mesmo ao leproso, ao paria infame, ao réu
Ensinas pelo amor às delícias do Céu,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que da morte, tua velha e forte amante,
Engendraste a Esperança, - a louca fascinante!
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que dás ao proscrito esse alto e calmo olhar
Que faz ao pé da forca o povo desvairar,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que sabes onde é que em terras invejosas
O Deus ciumento esconde as pedras preciosas.
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu cuja larga mão oculta os precipícios,
Ao sonâmbulo a errar na orla dos edifícios,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, magicamente, abrandas como mel
Os velhos ossos do ébrio moído num tropel,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu, que ao homem que é fraco e sofre deste o alvitre
De poder misturar ao enxofre o salitre,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que pões tua marca, ó cúmplice sutil,
Sobre a fronte do Creso implacável e vil,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Tu que, abrindo a alma e o olhar das raparigas a ambos
Dás o culto da chaga e o amor pelos molambos,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!

Do exilado bordão, lanterna do inventor,
Confessor do enforcado e do conspirador,
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria !

Pai adotivo que és dos que, furioso, o Mestre
O deus Padre, expulsou do paraíso terrestre
Tem piedade, ó Satã, desta longa miséria !
ORAÇÃO
Glória e louvor a ti, Satã, nas amplidões
Do céu, em que reinaste, e nas escuridões
Do inferno, em que, vencido, sonhas com prudência!
Deixa que eu, junto a ti sob a Árvore da Ciência,
Repouse, na hora em que, sobre a fronte, hás de ver
Seus ramos como um Templo novo se estender!

O mergulho da poesia de Baudelaire, no íntimo do homem, revela a sua curiosidade e o questionamento das forças ignotas que desterra o homem de sua aparente normalidade, identificado-o com uma força demoníaca desconhecida, mas que ao mesmo tempo liberta o homem do tédio que encurrala, não permitindo a sua elevação seja espiritual ou intelectual. E incorporando a linguagem romântica os aspectos dessa natureza grotesca caracterizada pelos vícios humanos.
Esse universo poético descreve uma relação paradoxal com a natureza, que em primeiro momento é influenciado pelo romantismo, onde anseia pela libertação do homem, no qual se encontra preso nas zonas urbanas, a alusão ao tédio, talvez uma sensação causada nele, o “tédio de Paris”. Um tédio acompanhado de um pessimismo radical que se instaura no homem é a chave para a sua libertação como pensador.
“A energia de viver brota do devaneio e do tédio”. C.B.
A perda de todas as ilusões, causadas pelo choque com a realidade, traz a sensação de angústia e são características desse tédio, que aparece como destino do homem ocidental.

distant ways


A candle is shining
Revealing secret feelings in my mind
Hope and a will devoted for a “desire”,
A desire that never goes away
Under my skin, over my body,
All the shadows disappear
With the taste of a desire

Beyond all fantasies,
The horsemen come across the desert,
For find a lost oasis,
The princess stays under nightmares,
In a hope of the charmed be broken,
And all your fears turn into sweet poetries

A pale rain falls down,
Covering my dreams
Of reflections about a mankind
Is there a hope for love?
Or just empty words and illusions
So i play my guitar
For giving me any solitude
For this feelings that never goes away

Beyond all sorrows
And distant of my world
A rebel rider comes to me
And show me a treasure
Just simple words and a “desire”
A “desire” that never goes away
W.O.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

A Revelação de Lilith





Seus jogos sinuosos tentam revelar o que sinto, mas eu tenho meu próprio caminho,
Faço sombras onde só há deserto, recuso a historiografia dos seres,
Das formas concretas, sou alheia a quase tudo que perverte o instinto.
Me deixastes sem lar, sem voz, amparada no receio do esquecimento,
Respirando o vento cortante das marés nauseantes e angustiantes em mim.
Sobre a água guardei meus mistérios e velei a entrada do meu ser,
E retorno sempre à construção infindável de meu livro aberto.
Exalo o cheiro do jardim efêmero, irradio os segredos de psique,
Manipulo os sonhos indizíveis em meio as suas flores mortas,
Subjugo o seu coração triste e resvalo o demônio que há em mim,
Surpreendo os seus impulsos, sou sua Anaïs Nin,
Mas não tente revelar o que sinto, eu tenho meu próprio caminho.

W.O.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008


A Herética Dama

A herética dama atende o teu chamado, conde negro das papoulas alucinógenas,
Das saudações pagãs, dos beijos fraternais, das distâncias que corrompem os mundos adormecidos. Em paz, sonho com sua vinda, sua esperança e clamor.
Estou febril no que não posso tocar, mas as estações mudam, os corpos também,
Consuma meu ódio, me leve para o universo paralelo das tentações, dos paraísos artificiais.
De todo o meu ser, o que você realmente quer?

A sua linguagem constante, desconcertante, são abstrações sem razão,
Os seus princípios são figuras surreais de seus verdadeiros instintos.
Hey, um anjo voa em blasfêmia, e vê sua face surpresa.
As suas confissões são fugas repentinas do que te consome,
A sua simpatia desmerece o caráter instintivo dos teus anseios,
Hey, um anjo voa em blasfêmia, e devora sua carne.


A herética dama atende o teu chamado, conde negro das papoulas alucinógenas,
Caio no profundo dos teus sonhos, do amargo do haxixe,da inconstância das conexões.
Acordo no desalento do cotidiano, no cadafalso das ilusões.
Hey, será que foi o feitiço da lua que trouxe o encantamento para o meu jazigo de solidão?
Ou travessuras de bruxas apáticas liberando o perfume das papoulas alucinógenas?
Que triste tarde esta que não encontro repouso sem meu sonho,
Aqui fora faz muito frio, mas a lua tem seus encantos.

W.O.

Fantasia




Cadê você? Procuro-te nos lugares mais distantes da minha alma,
Mas eu não sinto o caminho, mas eu sou uma jogadora,
Uma intrusa em sua floresta, em seu santuário de flores mortas.
Porque você quebrou algo em mim, despertou a minha lilith,
Mas você me procura e me afasta com seus labirintos, seus jogos.

Eu te vejo atrás dos muros tecnológicos,
Sinto tuas dores, conheço seu mundo como ninguém.
A sua fragilidade obtusa, seus odores.
Sou devota da sua revolta, dos seus temores.

Cadê você? Procuro-te nos lugares mais distantes da minha alma,
Eu destruo seu mundo aparente, corrompo seu inconsciente,
Libero seus desejos bestiais, no profundo das tuas rosas mortas,
Mas você me procura e me afasta com seus labirintos, seus jogos.

Eu te sinto atrás dos simbolismos,
Vejo suas fraquezas, conheço seu mundo como ninguém.
A sua melancolia profunda, seus odores.
Sou sua garota dissolvida, sua fantasia.

Cadê você? Procuro-te nos lugares mais distantes da minha alma,
Eu sou sua ruína, seu narcótico. Mas eu sou uma jogadora,
Uma intrusa em sua floresta, em seu santuário de flores mortas,
A espera do conde negro, das papoulas alucinógenas.
Mas você me procura e me afasta com seus labirintos e jogos.


W.O.

sábado, 9 de agosto de 2008

Para além da humanidade


Eu atrevo-me a recordar, os nossos dias de um tempo brilhante.

Das janelas e frestas abertas, das espumas dançantes,

Um sopro, uma luz, respirações ondulantes,

Um mundo inteiro aberto, uma ode aos corações selvagens.

Eu atrevo-me a recordar, as estrelas, o fundo dos oceanos,

O irônico da minha tristeza, das dores infindas, das sombras da humanidade.

E guardei em mim todas as dores, o trágico em si,

Dos momentos inoportunos, das respostas sobressaltadas.

Mas eu atrevo-me a recordar, do que há de bom em mim.

Para além da masmorra rompeu-se o espelho dos sonos angustiantes, do imaginário constante.

Em algum lugar fora do mundo, em algum labirinto estático, nauseante.

E o universo inteiro gritou, e eu atrevo-me a recordar,

Um novo mundo, para além da humanidade.

Williane Oliveira

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O Espírito do Niilismo



“O espírito do niilismo precede a atividade do niilismo”.

O espírito da negação parece ser o espírito de nossa época, negamos tudo que somos para sermos um pouco mais que os demais. Os demais a que me refiro é aos 99% da parcela da humanidade que vivem em conformidade com o seu tempo. São como galhos levados pela correnteza do rio, mas nós, 1% (este percentual ainda parece-me muito), vivemos a margem, somos as duras raízes que deitam na terra com infindáveis memórias e destinações fatais, carregamos o peso da arrogância, do orgulho que se transmuta nas pesadas gotas anunciadas por Zaratustra. Não nos contentamos em sermos levados pela correnteza do rio, queremos o mar e os seus insondáveis mistérios, talvez um retorno às origens do mundo. Navegar máres cada vez mais distantes, mergulhar sem vontade de retorno. Mas os que são levados pela correnteza, ainda tem tempo de buscar a margem ou tentar um caminho ainda mais penoso, retornar ao mar, porque um dia pertencemos a ele, mas infelizmente, grande parte se desarraigou, os que tiveram força suficiente deitaram raízes nas margens, para não serem levados pela correnteza, e para isto é preciso ter muita força.

A compreensão do que digo parece fácil, a experiência de viver sobre a dureza do chão frio do niilismo é que é difícil. Atravessar a longa noite sem archotes ou velas, ter a dureza necessária de espírito, renegar aquilo que aparentemente somos, para sendo menos, sermos mais. É uma filosofia do nada nihil, não é doutrina, nem mesmo corrente de pensamento, além disso, é preciso não confundir a profusão das forças que operam o niilismo, pois o espírito do niilismo precede todas as experiências do cotidiano, e neste ponto não devemos confundi-lo. Algumas experiências do horror podem acontecer no meio do caminho, por isto devemos estar preparados. Heidegger por exemplo “olhou para o abismo da filosofia e viu as bestas do nazismo—se tornou de fato um nazista” (Adler). São necessárias muitas ultrapassagens, muitas escalas e esferas precisam ser passadas, inclusive a que concebe um intenso horror.

Muitas perguntas se fazem sobre o niilismo, uma já respondida, não é corrente de pensamento, foi de inicio, como queriam os russos, achavam que iam revolucionar o mundo através do niilismo, ao negarem o mundo, ele ia se transformar. Pura convicção de literatos políticos obstinados. O mundo aparentemente não se transforma, só se reconfigura, passou da metafísica humanizante como processo de domesticação do homem à técnica desumanizante. Nada neste meio tempo se transforma apenas se torna utilitarista, determinada em aplacar as nossas bestialidades. Mas nossos instintos são mais ferozes e perpassam qualquer tentativa de coerção.

Somos niilistas e somos doentes sim, Nietzsche faz um diagnóstico desta época do apogeu dos doentes, dos niilistas, porque em um mundo que falta a significação ficamos doentes, estávamos mesmo condicionados a ter significado no mundo, como animais, éramos destituídos disto, a bestialidade independia de significados, mas, domesticados precisamos dar razão a algo, o racionalismo socrático e sua infantilidade.

“unheimlichste aller Gäiste”, o mais estranho dos hóspedes—o niilismo, esta raiz funesta que impera no interior dos homens, salta aos olhos, como um vulcão adormecido, deixando o mundo em chamas, tornando-o obsoleto. Zaratustra dizia: O convalescente, na interpretação do alemão significa aquele sem lar, assim são os niilistas, raízes funestas sem lar que atravessam a longa noite. São como feras enjauladas, que sem temor cruzam a noite em agonia, a gritar no anseio pelo distante, pela liberdade. Monstros de forma bestial, liberados pela aurora infernal. Estamos subjugados e tolhidos pelas tentativas burlescas de domesticação grotesca de nós mesmos, somos o fundo sem fundo, sem originalidade, a tentativa inútil de uma glória nadificante, mais o niilismo e seu estranhamento desentranha-se cada vez mais.

Williane Oliveira.